terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Um balanço do meu 2009.

O ano passou tão rápido:
Descobri que sou um bom poeta
Afinal, sei onde fica o clitóris e sei o que fazer com ele
Bebo todos os dias da semana e fico bêbado ao menos nuns cinco deles
Fumo, ainda, um maço ou mais por dia
Vez ou outra fumo meu baseado, com menor frequência que antes, porém com a mesma intensidade
Ainda sou crítico com as coisas, leio bastante, jornais, livros, revistas, escrituras de banheiros públicos

Nas Segundas ouvi muito Jazz, de Mile Davis e Coltrane a John Pizzarelli
Nas terças-bossa, nas quartas-samba, nas quintas-rock, nas sextas-blues
Nos fins de semana compus minhas canções, com o mesmo violão dos anos passados, aquele que já não dá nem afinação
Me casei, fiz um filho e estou apaixonado pela minha família
Espero ansioso, todos os dias, minha esposa chegar do trabalho para treparmos feito animais e acordar toda a vizinhança
Beber vinho, sentados nus sobre a cama, e discutir filosofia, música e literatura durante a madrugada, ou simplesmente fazer declarações de amor
Depois dormir com ela em meus braços enquanto nosso neném ganha forma em seu útero
Me afastei um pouco de Nietzsche, no entanto me reencontrei com Bukowski
Ah, também re-li "Coração de Vidro", doze anos depois de ter lido-o pela primeira vez, ele continua lindo e puro, como se eu ainda tivesse oito anos


Passei mais tempo com meus pais e meu irmão, descobri que são companhias agradáveis até mesmo para mim
Procurei trabalho, tentei trabalhar e descobri que sou um bom poeta, ainda boêmio e apaixonado pela calma e serenidade das madrugadas
Embora esteja dormindo algumas horas mais cedo, ainda acordo após o meio-dia e, ainda, em jejum, como de praxe, acendo um cigarro
Ganhei alguns quilos, perdi mais um tanto de cabelo, me olho no espelho e ainda me vejo lindo
Enfim, não faço planos grandiosos para o próximo ano, vejo beleza no acontecer das coisas, e como todo bom poeta: não desejo largar a bebida e nem os cigarros.



Espero ano que vem ler mais livros, ver mais filmes, tomar mais cerveja, fumar mais cigarros, fazer mais amor com minha mulher, dizer pra ela mais vezes que a amo, ter uma horta no fundo de casa e carregar meu filho no colo


Um ótimo 2010 pra todos com muita paz, amor, álcool e poesia
Feliz Ano Novo, até breve, amigos!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Mimetismo

palavras de véspera de natal.

Se é verdade o que eles dizem, a Terra superaqueceu

Enquanto a lua chorava, lágrima por lágrima

Eu, descalço, jogava pedras na chuva

E as estrelas são sardas na pele do céu

Seu rosto é o norte dos meus sentidos

Meu barco, hoje bem menos solitário, naufraga na porta da sua vida

E todos fingem que não enxergam, com olhos secos e escamados

Dois corpos em queda-livre, mãos dadas

Velocidade dobrada, rumo ao Sentido Algum

Dado a beleza e perfeição, da natureza das coisas e dos mistérios da evolução

Hoje me faço novo, admirando todas as cores deste abismo, que alguns chamam de vida

Em nome da cor e do amor

Eu vejo milhões de balões pelo ar

E naquele abraço, recolho meus cacos e me reestruturo nesse formato você




neste natal, Cristo, crente que estava vivo, morreu...


Tirando toda a besteira do nascimento, o natal é sim, sem pormenores, uma data onde a paz e a plenitude das coisas começam a tomar formas e tudo fica mais calmo e sereno, assim é a vida amigos, uma constante evolução. Há pouco mais de um ano publiquei meu primeiro texto nesta plataforma digital e cheia de frescurinhas modernas, qual eu sou eternamente grato, por encontros que tal me proporcionou. Hoje, venho dar-lhes um abraço em forma de palavras e desejar-lhes um Bom Natal, com muito amor, paz, pessoas coloridas, bebidas, cigarros e outras coisas que seria politicamente incorreto dizer aqui. hahaha.

Boas festas e paciência com aqueles parentes chatos, infelizmente o sangue deles corre também em vocês. Blasfemem e gozem o máximo possível dessa/nesta data. Agarro meu amor e meu filho, num natal cheio de planos, marasmos e filosofias.

Enfim, boa bebedeira natalina! E ressaca é um estilo de vida.


Paz, amor e poesia a todos.


sábado, 12 de dezembro de 2009

Nem todas as rosas são rosas, mas ainda assim chamam-se rosas

E eu quero,
a minha nêga é faceira, dengosa e beijoqueira
olhos negros, nariz empinado, sorriso bonito
tem as pernas desviadas, um charme a mais
um andar engraçado, e o jeito que ela mexe com os braços
Ah, eu não canso de olhar
a minha nêga é branca, com cabelos bagunçado
um aglomerado de paradoxos, intrigante
elegante, excitante
ela guarda meu coração nas mãos
e eu me guardo ora nos seus cabelos, ora no seu corpo, ora no seu mundo
(entre seus rins)

Notícias de alto mar

Passou,
envelheceu, venceu, apodreceu
Há bolor por toda parte
Fatias de solidão
Migalhas de um coração, cheirando a mofo
Não vejo perigo em cogumelos radioativos
Num balanço, meus olhos mareados
No peito a estreiteza, onde morrem os receios

Estou só, a tua espera, em meu barco
Do mar o ponto mais alto
Onde nem mesmo as ondas ousam chegar.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Épico das sombras

seguindo em aberto


O ar, pesado e fechado, das cidades muradas de prédios e pessoas cegas
Onde eu rodopio por entre os carros, dançando os ruídos do mundo
Num suspiro profundo, eu me jogo no abismo e acordo na minha cama
Hoje é um dia perfeito para deixar ir, e rir do que já foi
Um dia perfeito pra beijar e crescer, tornar alto e esconder
Suas filosofias num copo, suas angústias num cigarro
A imagem presa na retina, uma boca com três fileiras de dentes
devorando pequenos fetos e embriões, nos becos escuros
Rastejando pelos bueiros, dormindo nas latas de lixos
O sol queima, a chuva afoga
Há fogo em nossas praças, onde vampiros se alimentam de esperança
E se eu puder procurar em minhas lembranças, não me lembro de outro cenário
Homens e mulheres enfileirados, com movimentos automáticos e seus carros luxuosos
Duas carreiras de monóxido de carbono, para ficar ligado a noite inteira
Todas as árvores estão mortas, as noites em depressão, as luas cometeram suicídio
É tudo tão confuso, e a explicação pra isso tudo também é confusa
E lá estão eles, os loucos, a última esperança, se perdendo
Caminhando pelas ruas quebradas, suplicando por piedade
Nos muros de lamentação, que se estendem somente até o limite do seu quintal
Com os pés cortados pelas pedras da terra prometida
E as mãos, em torno do pescoço, asfixiando
Uma imagem sangrenta e cheia de venalidade
Mas, mesmo que eu possa abrir as gavetas da minha memória, não me recordo de outro cenário
Crianças enforcadas e penduradas num frigorífico
Vendendo os corações a quilo
Voltando lentamente, como se já não fosse tarde demais
Veneno e pecado na bebida de Cristo
Transformando água em vinho, vinho em sangue
Deus se contorcendo no chão, num ataque de epilepsia moral
Mas, isso é só mais um ponto de vista para mudar
Uma verdadeira intenção de se entregar para esses soluços
Num ato, de morte...
Nervos retorcidos, membros atrofiados, cérebro desfigurado, mente roubada.



Hoje, um dia perfeito, eu acordei revendo meus conceitos
Mudei de opinião ao meu respeito
Sem orgulho, sem aplausos, só o silêncio
Não sou louco, nunca fui, é o mundo que sempre esteve muito sóbrio
(Hoje mais que nunca)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Interrompendo a sua programação...

BENTO


Bento,
Rebento do destino
prole deste latrocínio dos nossos corações

Bento,
menino travesso, qual eu não conheço a face
um disfarce pra renovar o homem que sou

Bento,
aquele que o coração já bate
abençoado pelo nosso amor.
(numa única cadência)



Eu queria muito uma menina, mas fui tomado por uma felicidade inexplicável quando o vi, pude ouvir as batidas do coração, um pequeno homem, um diamante bruto a ser lapidado.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Antes de partir.

Antes de partir, resolvi publicar um poema que escrevi há tempos atrás e cabe muito no dia de hoje. Um beijo, amigos, até breve.





13

Treze,
das bruxas
das putas
das ruas banhadas de sangue

Treze,
dos poetas
dos lobos
dos solitários imersos no escuro

Treze,
orgasmos consecutivos
homens feridos
estrelas sem brilho

Treze,
do azar
da sorte
da morte

Treze,
flertes com o perigo
sexta-feira perto de um abismo
a imagem do meu filho, enforcado no cordão umbilical.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Aos meus amigos

Sobre o efeito de um banquete de comprimidos
esse quarto finalmente presencia uma noite de sono tranquilo.


Amigos,
ando um pouco ausente desta plataforma, ando um pouco ausente do meu corpo, ando cheio de planos, ando de costas às vezes, ando de quatro também, ando longe... muito longe.
Assim que uma nova idéia, um novo parâmetro, ou uma visão menos turva sobre todas as coisas, voltarem a mim, voltarei a escrever aqui. Por enquanto me ausento, num retiro espiritual dentro de mim buscando uma evolução.
Quero conhecer mais coisas, conhecer mais pessoas, conhecer mais os meus amores, conhecer mais a mim. Vou sentar comigo, conversar comigo, me entender e negociar uma trégua. Quando me encontrar, eu volto.
No mais, vou indo embora...


Até breve.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Incompreensão

Meu coração comete o suicídio
corta os pulsos, sangra no escuro
grita, por ela, em socorro, desespero, paixão
em vão...
(esta euforia, que ele bate, ela não compreende)

sábado, 31 de outubro de 2009

Épico de noites escuras

das minhas incursões espirítuais e dos lados escuros de minha alma

Nos atalhos quietos
dos perdidos nos caminhos da minha ilusão
sempre pertos, do fim da noite e da madrugada chegando
pode-se sentir o cheiro doce da uma noite a mais que pude passar em claro
(aroma feito dama-da-noite)

O picadeiro da imensidão plana, por completo ilumina-se
e o erótico show, das estrelas nuas e tímidas, finalmente começa,
tambores e espíritos, de terreiros, olhares sorrateiros e julgamento...
daquele que criou a maçã...

Então, outrora, clamei pelos sorrisos da lua
agora, posto em pé, rente e, todos os membros do meu corpo, ereto
procuro o canto mais escuro deste teu corpo claro
pra consumar e purificar com pecado o ar da noite

Para adaptar as leis e as criaturas do escuro
para transformar todas corujas em morcegos
para que no cálice o sangue seja, o elixir principal

Para que todo o tempo passe
e que todas as nossas mil faces sejam iguais

Porém, nem o mundo e os seus impasses
será incapaz de ofuscar o brilho das almas
nem o tempo e seu andar disforme
será capaz de nos impedir de rejuvenescer

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Épico metafísico

A vida que se erguia, esguia
Esquiva-se dos olhares duros da Monalisa
A vida poderia parafrasear versos de tempo
Um brinde dos copos cheios de segundos
Ao declínio do império dos metazoários
Sobre as cabeças, um universo
uma lona bicolorida
para um espetáculo incolor

A vida caberia, só, apenas para delimitar os sentidos
fronteiras de palavras, risadas sem sabor
Edifícios de duas cabeças germinam na terra
Onde cabe eu e meus átomos
(numa explosão de prótons e elétrons)
Uma bomba disfarçada de coração
Todos os deuses estão no cio
Todos os loucos estão sóbrios
Frugalidade, brutalidade, insanidade
Há gatos no telhado, rato nos quintais
Parasitas invadindo meu corpo
Adentrando furtivamente através de meu ânus
(cobrando taxas de anuidades)
E assim, seguimos
amortizando o amor
dopados pelo calor do tédio

sábado, 24 de outubro de 2009

Eu passo, por entre seus passos enquanto a tarde passa em mim
Enquanto isso morro por te querer
Por quanto espero você?

Eu faço, me refaço, rasgo a carne e acho graça
Enquanto isso, meu egoísmo se apresenta pra mim
(Prazer amigo, senta aqui comigo e aceite um cigarro, faça parte do meu vazio, se quiser pode me comer agora)

Em minha cabeça eu bato, me retiro, pra tentar enteder
Tudo isso é um desperdício de felicidade
Enquanto isso, me deleito com a cidade e suas estátuas machadas de sangue

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Paranóias de antemanhã

Perdoe-me
Por acreditar demais em mim
Por flertar com os mistérios do mundo
Por me procurar nos lugares onde sei que nunca estou
Por achar que sou aquele que não sou

Perdoe-me
Pelas manhãs que acordo angustiado
Por estar sempre parado enquanto o mundo inteiro dança
Por estar sem voz quando deseja me ouvir
Por estar com pressa quando o tempo atrasa
Por querer me despir pra despistar o tédio

Perdoe-me
Por alimentar incessantemente o meu desejo
Por sempre acreditar em meus sonhos
Por esperar, sem saber esperar
Por acordar, sem querer acordar
Por não poder dormir

Perdoe-me, espelho
Por eu ser assim tão feio
Tão transparente, tão incompreensivo
Por eu não saber me pintar, mesmo com todas essas cores

Perdoe-me,
Por eu não sabe me perdoar

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Pensamentos insolúveis

Esses pensamentos insolúveis
que dissolvem minha mente
alimentam minha angústia

E eu, tão dependente
do teu corpo, cor e beijo
me escondo no emaranhado dos seus cabelos

Ao acordar, tão tarde
um desespero misto de receio
e minha insegurança me assassina
com cinco facadas no coração

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Saturnálias da alma

1- Da incessante procura


Fatigado, ele amaldiçoa o sol
Enquanto repousa na sombra
Sob a frondosa copa de uma árvore

O cansaço da procura nítido nas olheiras,
O frescor e a comodidade daquele repouso
Fez com que ele ignorasse o fato
Que sem luz não há sombra

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Fotografia



Deixe-me dizer,
Sobre teus seios fartos
tocá-los com meus lábios
fazer leito no acalento de teus braços
Deixe-me entrar na casa da sua alma e fazer morada
Dos teus beijos meu abrigo
Do teu sexo minha perdição
Deixe-me olhar pela janela dos teus olhos
admirar teu céu de noites perfumadas e sem juízo
acariciá-lo suavemente com meus dedos
Deixe-me ser o teu maior empecilho
e também, sua mais simples solução
o teu paradoxo, o teu avesso, tua outra versão
Preciso me embriagar com teu sorriso
fazer da sua companhia, a minha mais doce solidão
E pelo resto da minha vida
Deixe-me dizer: te amo


(na vitrola, Mombojó)

sábado, 3 de outubro de 2009

Traz pra perto teu cais, pra eu poder ancorar o meu corpo no teu...

É estranho...
Minhas viagens, pela linha do horizonte, parecem que já não me levam mais a lugar algum
Um lugar comum para nós
seres incomuns, aprendendo uma nova forma de se comunicar

Levanto voo...
Abro portas, revelo segredos
(percepção aguçada)
minhas viagens começam no seu espelho
um clima ácido, úmido, colorido e revelador
típico de primavera
E, por favor, me espera
pois, logo mais, irei aterrar
no seu colo, entre suas pernas
A minha linha do horizonte é o limite do seu mar.




(A madrugada sempre foi minha melhor amiga, suporta meus distúrbios de personalidade sem se incomodar e não dorme enquanto eu não dormir. Hoje, bati um longo papo com Aldous Huxley )

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Re-Civilização

Vivemos a era do aço
onde os corações são feitos de concreto
o tédio já virou rotina

e eu guardo todos os segredos do universo
no meu maço de cigarros

E a cidade se levanta, cedo
diante dos meus olhos, rente a tele-visão
um olhar teleguiado, pensamentos via satélite

e eu cada vez mais decadente,
mas, com estilo...

Dos orgasmos programados
e com prazo de validade
que movimentam a macro-economia da indústria da beleza
produzindo cada vez mais seios de plástico
aprisionando cada vez mais a alma

e eu continuo indecente
porém, um pouco mais introvertido

Vejo nas esquinas
as pessoas trocando os amigos repetidos
para aumentar a coleção
Um beijo, um abraço, um falso sorriso
um comentário maldoso sobre a vida alheia
um veneno que brota
da inveja e da sobriedade em demasia

e eu continuo louco
analisando meus passos no meio dessa multidão
pois o mundo é o meu divã

(também um pouco ausente)

(a meia luz, um fino e Júpiter Maçã. Pois, psicodelia é um estilo de vida, um estado de espírito)


Um dos maiores gênios da música mundial

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Três corações e as estrelas

Do mundo mudo que gira no mais profundo ventre da minh'alma
desgarra do meu corpo material e vai passeaar por todas as ruas da fria cidade
que na sua imensidão agora se faz tão pequena
perante o céu de novas cores, lindas e desconhecidas

E do amor, de duas estrelas inconsequentes, qual a lua foi cúmplice
surge uma nova estrela, de matiz singular e brilho único
Felicidade cria raízes, num futuro que se desenha, pleno
Onde a beleza da vida, do nascimento, se mistura com o céu
Onde agora bate em uníssono, três corações
Onde agora brilha em sincronia, o amor das estrelas

(o medo passou, agora a felicidade já não cabe)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pseudônimo

Éramos nós, trocando furiosas mordidas, a unha rasgava a carne. Naquela movimentação libidinosa, naqueles beijos com sabor de pecado, naquele suor com cheiro de paixão. Ela trepava como se o mundo fosse acabar no segundo seguinte, buscava furiosamente o prazer, espreitava o gozo, gemia cada vez mais alto. Sem perceber, me chamou pelo nome dele três vezes. Eu ignorei e continuei encenando.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Das viagens no tempo-espaço

6 de Setembro de 2018


Antes de mais nada, eu gostaria de dizer que não me chamo Vinícius, meus pais não são meus pais e toda minha vida é um disfarce, para todos os efeitos e para o bem da revolução tudo o que vou relatar aqui também nunca existiu.

Para que as coisas façam pouco mais de sentido, vou explicar o cenário físico, antropológico e político-social em que se situa o Brasil de 2018. O regime é fechado, só que desta vez não se trata de um governo militar, quem dita às regras é o sistema que conta com três frentes amplas. A primeira, é a soma dos poderes: executivo, legislativo e judiciário. São os responsáveis para que o sistema sempre funcione bem financeiramente, dividindo a sociedade em classes, de forma desigual e injusta. A segunda se chama indústria do entretenimento, ela serve para iludir a sociedade, fazendo com que ela não perceba que está sendo oprimida e aceite a organização social imposta pela primeira frente. A terceira e a mais importante delas é a que chamamos de indústria da informação, é ela quem decide o que vai ser dito, quem vai ser eleito, quem pode viver e quem deve morrer, e faz tudo isso através da população. O que não muda desta ditadura pra anterior são os companheiros sendo torturados, os ídolos e as bandeiras que defendemos, os pensamentos sendo manipulados e a mídia encobrindo todos esses fatos.

Uma ditadura mais organizada e inteligente como essa em que vivemos hoje, precisa de uma revolução mais organizada e inteligente. Nos estruturamos da seguinte forma, são quatro grupos hierárquicos diferentes. Os idealizadores, que são os pensadores, na maioria todos mais velhos e que tem certa intimidade com revoluções, são eles quem definem os passos a serem dados e suas identidades são um mistério que nem mesmo nós, da revolução, sabemos. O segundo grupo, nós chamamos, criadores, a função deles é simplesmente procriar, moldar mentes e nos dar novas identidades e sustento até estarmos pronto para a revolução, são eles nossos pais. O terceiro grupo, do qual faço parte, chama-se batedores de carteira, somos nós quem combatemos de verdade a ditadura, raramente pegamos em armas, nossa missão é se infiltrar no sistema, colher informações, refletir, questionar e tentar entende-lo, quando chegamos num certo ponto da vida deixamos de ser batedores e nos tornamos criadores. O último grupo são o que chamamos de isca, são eles em sua maioria criminosos, eles são responsáveis pela luta armada, por tentar desestabilizar o sistema enquanto nós nos empenhamos em remover as peças fundamentais que sustentam essa estrutura desigual e opressiva. Com exceção dos idealizadores, os outros grupos se organizam de forma simples. Os criadores procriam, registram a criança com um nome e criam ela com outro, documentos adulterados. Nunca sabemos o nosso verdadeiro nome, poucas vezes sabemos ao exato a nossa verdadeira idade, nos alimentam a vida inteira com preceitos comunistas, filosofia e física quântica, quando atingimos a maior idade somos designados a um dos grupos e nunca mais voltamos a vê-los.

Sendo assim, para todos os efeitos e para o bem da revolução o meu nome é Vinícius, os meus pais são os meus pais, e a minha vida é real.

domingo, 6 de setembro de 2009

Poesia boa
faz a cabeça
até em papel de pão

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Dos falsos prazeres

Havia sangue no espelho
de procedência duvidosa
num aglomerado de indecência
o jornal anunciou a nova tendência da ciência
se aliando aos novos padrões da moda
e ditando as novas regras da beleza

eu ignorei e continuei me masturbando
idealizando minha imagem, travestido
onde me comia e me chupava
gozava e cuspia, maldita porra amarga
não faz mal, no fim a luz sempre apaga

ainda há sangue no espelho.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Hold'em

As blinds foram paga...

Flop:
Sobre o feltro verde da pequena mesa, três cartas são abertas.

Passo - Disse o homem bigodudo
Passo - Disse deus, sentado a direita dele.
Passo - Disse o diabo, sentado a direita de deus pai todo poderoso.

Turn:
Sobre a mesa agora quatro cartas, dois valetes de copas, um dois e um três de paus.

Dobro - Disse deus, com aquela cara de puto boêmio, a barba amarelada de cigarro, enquanto servia o travesti que estava sentado em seu colo com mais uma dose de gim de enxofre.

Desisto - Disse o diabo, atirando suas cartas no centro da mesa, um idiota que não sabe blefar, nunca vai chegar a ser deus.

Pago - O homem bigodudo lança um olhar firme para os olhos de deus, sorri um blefe.

River:
Um reis de paus cai na mesa.

Passo - Disse deus, menos convicto do que antes, o trio de valetes dele ficou pequeno.

Tudo - Disse o homem bigodudo, o jogo era dele, as cartas estavam todas na mesa, claras. Empurra as fichas com delicadeza junto ao monte de apostas. Ele percebeu que deus não podia ser tão grande e havia ficado com medo de um possível "flush"

Deus para, olha, aquela vontade de cobrir a aposta só pra não ficar por baixo, mesmo sabendo que o jogo já estava perdido. Apaga o cigarro pouco fumado no cinzeiro, se levanta rápido derrubando o travesti no chão e sai da mesa, o semblante mais derrotado do que nunca.
O homem faz carícias no espesso bigode, recolhe as fichas em silêncio, abre as suas cartas anunciando o blefe, um ás e uma dama, ambos de espada, diz aos gritos para que deus possa ouvir: "Isso não foi só um blefe, foi só a prova de que é o homem quem define o quê ele é. Eu sou livre e decido minhas próprias verdades, chega de dogmas".

No outro dia corria por todo o cassino a notícia que deus havia cometido o suicídio na noite anterior, em seu último testamento ele dizia que não podia suportar o desafio, de ser tornar real, que aquele senhor bigodudo o havia proposto.
Meses depois, a notícia de que esse homem bigodudo havia endoidecido e não parava mais de blasfemar.

Séculos mais tarde, a dívida desse jogo ainda continua sendo paga.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Hoje decidi cuidar de mim
Dane-se o Senado, que morram todos os de-puta-dos
Vou fazer de conta que não existe nenhum Grande Irmão
Tô cagando pro sistema e rindo de quem o alimenta
Tô cagando também pra opinião pública e privada
(que morram todos afogados na minha privada)
Vou dar descarga até acabar toda a água do mundo
E se por capricho alguém se sentir ofendido, eu tô cagando também

Hoje eu não quero nada além de cuidar de mim
da minha paz e do meu superego
Hoje eu não quero correria
Vou dar vazão ao meu ócio
Hoje eu só quero saber de mim e dos meus dois pedaços
Vou botar meu fino no bolso, meu amor no colo
Sentar na sombra com algumas cervejas
E ficar estourando plástico bolha até a noite cair
(vou comprar um quilômetro dele)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

TOCA RAUL


Eu nasci há vinte anos atrás. Há vinte anos atrás, também, morre uma das mais influentes figuras da música nacional: Raul 'Rock' Seixas. O músico, o bruxo, o gênio, o maluco beleza. O Raulzito, que começou na Bahia ao lado dos Panteras, fazendo rock inglês com gosto de acarajé. O Raul, que ao lado do mago Paulo Coelho, escreveu Gitá, mais que uma poesia, uma profecia. O tolo que debochava da ditadura com seu ouro. O Seixas, que morreu para Marcelo Nova brilhar.
Raul Seixas, um nome que vai além das canções e dos pensamentos avançados. Raul Seixas o gênio, o deus, um dos maiores homens que passaram pela Terra.
Viva a sociedade alternativa, viva raul, pois o homem é a lei!
Não morreu de overdose como morre um verdadeiro rock star, não cometeu o suicído, simplesmente viveu e alimentou seus anseios. Raul não morreu, pois como ele mesmo disse certa vez: "Ninguém morre, as pessoas despertam do sonho da vida".
A humanidade agradece e deve muito a você Raul. Descanse em paz, pois o seu livro você já escreveu.


"Ninguem tem o direito de me julgar a não ser eu mesmo. Eu me pertenço e de mim faço o que bem entender."
"Somos prisioneiros da vida e temos que suportá-la até que o último viaduto nos invada pela boca adentro e viaje eternamente em nossos corpos."
"Eu não sou louco, é o mundo que não entende minha lucidez."

- Raul Seixas, 1945 - 1989.

http://www.youtube.com/watch?v=sNQuN6xgBNo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sobretudo as cores

A chuva que sutilmente dança sobre o telhado
Preenche o vazio dessa saudade boa de sentir
Do corpo,do sonho
Em silêncio pleno, planos de um futuro
A chuva que leva as almas brincarem na poça
Embala a cadência das profundas estocadas
No corpo que arde, doces marcas
Do mais perto que se pode chegar da perfeição
Sobretudo as cores, que no mais alto grito,
eu vejo surgir
consomem a alma com a mais serena paz
Num encaixe perfeito, das pernas e braços
Nas clareiras o laço
Descansam os corpos...
Que cada vez brilham mais
sobretudo as cores.


(àquela que eu amo)

sábado, 15 de agosto de 2009

SALADA DE ANSEIOS 2

Deixo a chuva me bater
pelo simples gosto de apanhar
cada gota rasga e cura
(vai bate mais)

Estou ficando precocemente careca
Não me preocupo muito com isso pra falar a verdade
Dizem por aí que sou louco
Ah, eu adoro ser louco, assim não preciso dar explicações, pra ninguém, sobre meus atos
(já não basta a conta do analista)
Sou louco! Isso já explica toda minha insanidade
(no fundo eu ainda queria ter cabelo)

Dois loucos há muito tempo inventaram o amor
talvez a mais plena loucura da humanidade
Tem também o cara que inventou a cerveja
(esse sim foi um gênio)
a phillip morris e o marlboro vermelho
(não pode mais fumar em bares, isso sim é loucura)
tá ficando tarde, os loucos também se cansam uma hora
vou deitar nu, no meio da rua e deixar a chuva me bater
vou derreter, escorrer com a água pelo meio-fio
evaporar, pra voltar em forma de chuva e bater em meu amor.


(na vitrola, a musa das musas, Edith Piaf)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Daqueles dias em que se acorda morto
Sabe?
Qualquer movimento brusco os tendões estouram
Cada passo dá a impressão de que o chão vai abrir
Dentro da cabeça uma tonelada de pensamentos, todos se chocando, deixa no ouvido um zunido estonteante

Daqueles dias em que tem medo do próprio reflexo
Sabe?
Nojo do próprio cheiro
E quando começa a esquecer quem é, alguém te chama pelo nome, um nome disforme que não faz referência alguma, o nome do homem que você odeia ser


Daqueles dias de morte, e da notícia de que mais cedo ou mais tarde ela chega
Sabe?
(justo no momento em que mais ama, que mais quer viver)
Quando os goles descem pela garganta feito navalhas
(números, números, números)
As pessoas só falam em vendas, as crianças ainda morrem de fome
e você procura curar o mundo inteiro, até descobrir que é o maior doente
(assume a culpa, como dever)
Quando quer falar, quer dividir, o cérebro apenas soma tudo e um dos lados faz você ficar em silêncio, e assumir a culpa do silêncio também
(seria bom ter um deus pra culpar agora)

Daqueles dias em que o nada comprimido em seu peito, se alimenta de amor, e busca forças pra pulsar por mais algum tempo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Chama a polícia, vô acender um cigarro!

Quem me acompanha?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ao nascimento do meu filho bastardo

Da desgraça
leprosa fecundação
dos pedaços que me tira, germina e cresce
parasita que deforma meu corpo e rouba meu sangue
aumenta meus seios, dilata minha vulva
um câncer que faz cair meus cabelos

Agora é a hora
em que me livro das dores
e dos horrores daquilo que o desejo não concebeu
o filho que o Diabo me deu
enquanto eu inocente buscava o prazer

Agora é a hora
em que escarro por entre minhas pernas
misturado em sangue e placenta
o pequeno monstro enforcado no cordão umbilical

quarta-feira, 29 de julho de 2009

SALADA DE ANSEIOS

- Paga um boquete? - me pediu o Sistema
- Não!
- Ah, é rapidinho. Se você não o fizer outro irá fazer, sempre foi assim.


Deus resolveu tirar férias, vai passar alguns dias no inferno, vai se vestir de Diabo e se atirar na orgia.
Alcoolismo não é doença, então não venham me crucificar. Desliga a tevê um pouco.
Olha lá, os cegos atravessando a rua, fora da faixa. Poucos chegam do outro lado.
Vermelho, Verde... Vou ficar por aqui mesmo, olhando a chuva de canto, espreitando uma nova manhã

- Ô moça, me vê dois quilos de vermes pra levar, pode por junto com as baratas

Todo mundo gosta de sangue.
Vivem gritando no meu ouvido: "Você tá louco, tem uma vida inteira pela frente"
Mal sabem eles que sou surdo, endoideci faz tempo, as buzinas não me deixam dormir.
Estou sorrindo, estou feliz e feliz serei para o resto da minha vida, nunca achei que pudesse ser, mas descobri recentemente que posso.
Sou surdo, gritem o quanto quiserem.

- ATENÇÃO! O DONO DO MUNDO MANDOU AVISAR QUE O AMOR FOI PROIBIDO!

Eu criei um mundo dentro de mim, onde cabe o amor, a liberdade e a loucura. Se ele ainda for pequeno sou o dono da Lua há muito, e pra lá poderemos fugir. Vou doar uma cratera para cada um que ainda acredita na felicidade, nas pequenas coisas, e no amor.
Um morto me encontrou na esquina hoje, me deu dois tiros na cabeça. Eu ri, mortos não podem matar os que ainda vivem.

(acordo com a chuva no meio da noite, embriagado de amor, sorrindo como há muito não fazia)


http:
//www.youtube.com/watch?v=UcuRKpk-p64&feature=related

http://letras.terra.com.br/dance-of-days/84309/

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Lindas luzes, tantas tão coloridas
Só mais um plano de vôo sem sair do solo
Define que é perigoso demais querer pousar

domingo, 26 de julho de 2009

Se existe um deus, ele sou eu.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Alegorias e fantasmas

Olhei pela janela. Lá estava ele currando a própria mãe, voraz e perturbado. No final do ato vestiu-se com seu terno brilhante, fez sexo oral em si mesmo. Morreu envenenado pelo próprio sêmen, porém, lá estava o corpo bem vestido, sorridente, fingindo ser feliz, oco, um morto brincando de viver, como outras dezenas de milhares que vagam no escuro do meio-dia. Talvez um dia eu também precise morrer. Talvez eu não morra nunca.

(toda mutação acaba sendo evolução)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Um artista é como um pássaro
canta e voa, pois é o sentido da própria vida
todo artista é louco e sua loucura é a liberdade

Vez ou outra por inveja
os homens trancam os artistas em gaiolas
para controlar teu canto e cortar tuas asas

Para aqueles que não conseguem fugir
Resta apenas o silêncio
e o pensamento, que faz deles livres dentro de si.


(frutos de uma árvore morta)

sábado, 11 de julho de 2009

Aquele velho relógio de bolso

Fazia anos que não saía do meu corpo
Nem me lembrava da sensação
O palhaço que dançava nu no meu telhado ainda estava lá
Sem explicação resolvi tirar toda minha roupa também
e pular naquele jardim de cacos de vidro
das minhas veias jorrava um sangue pisado, que nunca correu
as flores dormiam num coma profundo
e eu acordava brigando com o senhor do tempo
atirei cinco pedras no relógio-matriz
e o tempo então começou correr em velocidade dobrada
eu tracei no chão uma linha reta, corri em círculos
pus meu corpo ao avesso
me fiz contrário
só pra acertar meus ponteiros no seu horário.



(sendo assim o silêncio também é barulho)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Há bilhões de anos
lá estão elas nos observando
de cima o plano toma cores
e estamos estáticos, fossilizados
nus e agarrados
dois corpos em um único espaço
contrariando todas as leis da física

Há bilhões de anos
estamos alinhados
corpo e alma
e esquecendo o que não serve de lembrança
a nossa sombra derrete a luz
o meu corpo derrete e se funde ao teu
Esse mundo já ficou pequeno pra nós
Agora, eu e você somos o mundo e nada mais existe
Além de nós
o resto é irreal
Vou desenhar pra você um novo universo
inverso, o avesso das palavras
uma linguagem escrita por olhares
uma esfera brilhante, a gênese de uma nova dimensão

Há bilhões de anos
lá estão elas nos observando
as estrelas, sempre tão serenas
nos envolvendo como parte da constelação.

sábado, 4 de julho de 2009

O corpo é a prisão da alma.
(a minha continua planejando a fuga)







(na vitrola, Bob Smith, my dear)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Esse amargo em minha boca
é consequência do meu sangue sujo
e tão puro é o veneno que me faz acordar
nas horas que chego, vou...

Tem horas que penso não existir
acho que sou fruto da minha própria imaginação
Delinquente, entorpecente o cheiro
daquilo me faz ser o primeiro
e talvez o último dos que ficaram

Sempre levanto, quando não tenho nada pra dizer
e em silêncio sussuro pro espelho
e descubro enfim, que não sou o primeiro
menos ainda o último daqueles que já se foram

Enquanto meu corpo pede calma
minha alma tem pressa
de desfazer o que não foi feito
eu sou deus, eleito por demônios
para governar toda a insanidade humana
em meus devaneios

E aquilo que da terra veio
pra terra sempre há de voltar
e eu fico...
parado, pensando em todos os anos que passaram
me perguntando quem foi aquele que marcou as horas
num relógio de sol que sempre atrasa

Monta a sombra do passado
e o desejo de um futuro
que me faz embrulhar pro presente
a minha vergonha de existir

Então engole toda poeira
dos segundos que passam
e sem controvérsias peço mais um trago
do cigarro amassado que esqueci de fumar

Agora é a hora para sorrir
os loucos e aquilo que se fez puro
do nascimento até alguma forma de morte
onde o corpo ainda flutua
por entre os copos vazios
e suas longas histórias

Não sou o único
não sou o que quero
nem o que penso ser
não sou nada daquilo que se aproxima da perfeição
mas sei que ainda posso sorrir por alguém
e então, neste exato momento, esquecer toda dor

Mas esse silêncio
faz meus sonhos migrarem pra perto dos seus
e não adianta esconder
pois a saudade é real
a saudade é ideal

Não sou o orgulho
não sou a vaidade
sou a tristeza em conflito com a felicidade

Eu sou o doente que não quer se curar
eu sou tudo aquilo que não consigo segurar
eu sou um pouco do fogo
um pouco da água
um pouco do ar

Eu sou o mar
dizendo que estamos seguros
e que nada pode nos derrubar

terça-feira, 30 de junho de 2009

Tenho fome
quero comer todos seus fios de cabelo
saciar minha sede com teu suor
morder cada pedaço do teu corpo
gosto do sabor adocicado que tem teu clitóris

Te amo
e pra provar isto essa noite eu te mato
guardo seu cadáver debaixo da minha cama
para poder sentir sempre o teu cheiro no meu travesseiro
seria então meu primeiro, único e último amor

sábado, 27 de junho de 2009

É hora de fumacear!

É isso companheiros. A lei que proibia o consumo do tabaco em locais públicos e coletivos caiu, de nariz no chão. Agora a gente pode tomar aquela cerveja gostosa do fim de tarde acompanhado do nosso mais fiel companheiro: o cigarro. Podemos rir entre amigos numa mesa de bar, falar sobre filosofia, ideologia, arte, bunda e futebol, enquanto nos intoxicamos com o mais belo e doce veneno que o homem já criou.
“Fumar é coisa de idiota inconsequente” dizem os passivos, aliás, danem-se todos os passivos eles que engulam nossa fumaça e respeitem o nosso direito de ser inconsequentes e o nosso flerte com a idiotia. Vou ficar broxa, ter vários enfisemas e se tudo der certo morrer de câncer no pulmão. Amigos, só se vive bem quando se despreza a morte, um homem muito mais sábio que eu disse isso certa vez. Fumo pois gosto! Se um dia deixar de gostar largo! E aí sim podem me chamar de viciado.
A tevê mata amigos, comer no Mc Donalds mata, a rotina mata, o medo mata, as tradições matam, viver mata. Então que eu morra exalando nicotina e de alma lavada.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Inconsequência
Do mar, e toda sua imensidão
Loucura
Os dois casais sentados sobre as pedras, daria uma bela pintura
daquelas que se guarda para sempre na moldura mais nobre da memória
(aquela onda ele mandou, pra eu blasfemar menos)
Ou aquela onde veio pra abençoar nosso casamento?
Não importa, aquilo era o mar, e estavamos livres
Imprudentes
Foi pra mostrar pra eles o quão vivo ainda estamos
e eu amo, mordo, choro e sorrio
a cada segundo espreitando um desafio
A natureza purifica! O mar está vivo!
Estamos vivos, e provamos isto!




Talvez sejamos loucos
Talvez a vida é que seja louca demais.



(para meus queridos amigos Audrea e Diego. para minha querida esposa Nátalin Guvêa. para nossas aventuras inconsequentes. ainda estamos vivos meus queridos, e isso foi só pra provar)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Da Lua

Não moro na lua
mas sou o dono dela
Era lá que eu dividia espaço com a solidão
era pra lá que eu ia quando a Terra balançava
Lá eu estava seguro
ia pra lá quando queria chorar, sem ninguém ver

Agora
a Lua é nossa, já não tem mais graça sem você
você sempre soube o caminho, eu te ensinei a chegar
podemos morar lá, sozinhos, longe de qualquer raio de luz solar

O que me assusta é saber que pode partir
em qualquer momento
e não terei mais esconderijo, não terei mais a lua
e não me acostumarei novamente com a solidão

Mas enquanto quiser ficar
a Lua é tão sua quanto minha
tão nossa...
e eu tão seu...
e lá estaremos seguros

domingo, 21 de junho de 2009

Quando traz o passado para perto novamente
Fica difícil viver o presente
e impossível de imaginar um futuro.

sábado, 20 de junho de 2009

Não sou de criar casos
(mesmo que esteja queimando por dentro)
Meu coração de pernas curtas insiste em passos largos
Escondo em mim uma dúzia de segredos
que aos poucos saem em forma de lágrimas
em silêncio...
Tenho vergonha do espelho
não da imagem, sim dos sentimentos
Sinto ciúme de mim, do meu pedaço
uma vontande imensa de ocupar o seu espaço, que não é meu
Mas, não sou de criar casos
fico apenas observando
ironizando a minha fragilidade perante teu rosto, cheio de mistérios
inativo perante toda sua blindagem
meus pensamentos poeticamente libidinosos
esgoístas e ciumentos
minhas atitudes politicamente incorretas

Não sou de criar casos
Fico observando em silêncio
e queimando por dentro



(na vitrola, Ludovic)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Nos derrubaram
Mais uma vez amigos, estamos no chão
E o que faremos agora?
Estão queimando todas as informações há tempos
E querem queimar aquele que agora vos fala
Você liga?
Atende?
Desliga, sem nada dizer?

Açougueiros serão cirurgiões
Jornalistas meros escrivões
de crimes sem castigo
e amores sem juízo
de sonhos e qualquer outro tipo de entretenimento
Escrituras em pele de carneiro
daquelas qual se come sem tempero

Gritemos pois bem, em desespero
nunca seremos os últimos
nem os primeiros
meu respeito ultrapassa as barreiras dos teus peitos
os teus sutiãs
o meu paladar de gosto azedo
que não precisa de palavras pra informar
controlar, dispersar, estuprar

Vai! Faz assim que eu gosto
faz assim que eu gozo
faz assim que eu chupo
depois eu cuspo
e quem acredita?

Eu estou levantando...
se protejam
Vou chutar as nádegas de deus
vou corromper o demônio
Tinhoso demente
Se eu pudesse eu cuspia em tua cara sementes
daquilo que nenhum solo fértil pôde aceitar

Bate que eu gosto!
Esses são seus últimos depósitos
no meu banco de sêmen
sou pródigo
andrógeno
bucólico
Sou etílico
acrílico
ridículo

Me morde agora!
e engula o que sobrou da verdade em mim
em nós
pois somos a voz do destino.


Vai! Atira logo!

terça-feira, 16 de junho de 2009

O meu presente...

Hoje bebo acompanhado da saudade
pra celebrar o seu aniversário
tá muito frio, cubra os pés
e neste momento a saudade é o que me deixa mais próximo a você
o problema é que a saudade não bebe, então bebo por dois
No final acabo sempre embriagado, e sorrindo pra saudade
Desenho seu nome na fumaça do cigarro
e do outro... outro... outro, eu sei que fumo muito, desculpa, mas é que eu gosto tanto, gosto tanto de você, tanto do cigarro... acredito que as pessoas tem que fazer aquilo que gostam, que você tem que fazer aquilo que gosta
Eu gosto tanto de estrelas, eu sou o dono da lua...
Por que não me deixa te ver nua?
Eu sou deus, e pode ser também se quiser
Tenho parte com o demônio, e ele por mim um admirável respeito, chego a pensar que um pouco de medo,e eu um pouco de medo de você... no final a história sempre se repete, porém, esse medo me apetece...

Pode me falar sobre demasia, fotografia, amor, loucura... sou tão louco quanto você
sou um admirador oculto pegando fogo dentro de um cubo de gelo
sou o que há por detrás do seu reflexo no espelho

Lembra do jardim?
Da casa com um piano branco na sala?
Das crianças correndo?
Das plantas e ervas que teríamos na horta?

Lembra das estrelas que eu fiz aparecer pra você?
das mentiras que eu passei a acreditar pra contar?
das declarações alcoolicas, porém, sinceras?
Lembra do lençol?
de quando eu fiz o tempo parar?
de quando a gente nem ligou por ele passar?
Lembra das fotos que viraram beijo?

E gosto...
do cheiro, do beijo, do encaixe
do gosto, do gemido, das palavras, da genialidade
dos defeitos perfeitos, da sensibilidade
da simples complexidade
do sorriso, do nariz, da singularidade
da mulher, do homem, da dubiedade

Talvez case comigo, talvez eu morra, talvez eu te mate
Quero que case, quero que morra, quero que me mate
Quero que cante, quero ímpares beijos, quero sorrir com a saudade
Quero um canto ao seu canto, um pedaço no espaço do seu corpo
um sorriso no espaço do seu rosto, metade da confusão da sua alma

Vamos discutir seus números, seu segredos, seus desejos
Vamos falar sobre nossos medos, e vamos nos proteger deles
Vamos falar sobre devaneios, e vamos sonhar acordados
Vamos domar o tempo e ignorar a distância
Vamos ignorar os dias de semana
Vamos gostar, viver, morrer... juntos
Nos completamos aos versos
Feito poesia e inspiração


(na vitrola Miles Davis, no cinzeiro dois maços de Hollywood, no sangue dois litros de tinto, nos braços uma saudade, no peito um sentimento, no consciente um pouco de medo)

sábado, 13 de junho de 2009

Hoje
vou sair e fazer sexo
com sexos diferentes
vou profanar, difamar, comer e ser comido
corrompido pelas ações do tempo

Hoje
vou sair e fazer sexo
até esquecer quem sou
Se quer partir vá
não pedirei pra ficar
mas algo aqui dentro grita
encobrindo a voz do meu orgulho
e pedindo pra que não demore voltar

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Era uma arma
uma única bala

Atiro primeiro em você
Logo em seguida atiro em meu peito

e fico me perguntando:
"como isso é possível?"


(devolveram meu sadismo)

v.m.paes

terça-feira, 9 de junho de 2009

Pequeno abalo sísmico em meu peito
um estudo das alterações dos terrenos, sob efeito de forças internas
Ah, como te odeio!
(ódio é nada mais que amor disfarçado)


Agora fiquemos em silêncio...
(tic tac, tic tac... e finalmente aquele coração bomba explode)

domingo, 7 de junho de 2009

"E agora? Eu morri!
enforcado em meu cordão umbilical"

Eu, que só queria um cigarro
pra enfrentar o espaço em branco
que ela deixa toda vez que vai.


(será que pode sair, pra fumar comigo?)


Ela vai, mas não deixa ele ir...
eu fiquei observando essa cena, num pântano de palavras
Um pedaço de meu corpo buscava o ponto mais vulnerável de toda aquela blindagem
um corpo de aço com um nariz de cera
o coração dizia coisas que a razão condenava...
sorria, olhava... eu gosto.

(e hoje o meu dia parece tão mais velho)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Na Taverna

...sento no balcão

- uma dose de porra, por favor!

Viro tudo num gole só e peço outra.
abro o jornal, e começo a sangrar pelo ânus.
"maníaco da placenta é preso hoje"
dizia a manchete, enquanto outras cabeças rolavam pela página

- uma dupla agora, da mais doce que você tiver.

Guardo o jornal dentro do casaco
fico observando as putas, com as rugas cheias de sebo, na mesa ao lado
Passo os olhos pelo buraco na parede
lá fora o dia cinza com dois sóis que queimam, mas já não iluminam
e de pensar... que no final ainda tenho que dormir para manter-me lúcido

- Deixa a garrafa, hoje vou tomar um porre de porra! Quero dormir bêbado e sujo.


v.m.paes

quinta-feira, 4 de junho de 2009

me equilbrei na ponta da faca
um banho de sangue, quente e colorido

a janela está aberta
uma calma alucinógena
fantasia andrógena
suada e sexy
me imita enquanto me excita
e exercita um sentimento, que me irrita
ao mesmo tempo que sacia o meu desejo de gostar

v.m.paes

quarta-feira, 3 de junho de 2009

GLM

nossos sonhos são os mesmos, há muito tempo
mas não há mais muito tempo pra sonhar

as coisas mudam de nome, mas continuam sendo o que sempre serão
e nada disso está escrito nos outdoors

seus lábios são labirintos
e se o sangue ainda corre nas veias é por pura falta de opção


... para Gessinger, Licks e Maltz.

Carta a inspiração

e quando o relógio tem que correr, ele para!
o frio aumenta... a fome alimenta
o poeta sente frio
embora a saudade traga calorosas lembranças

a inspiração é fogo, é grama
estrela que brinca com navalha
são os olhos guardando segredos
fechados, como se estivesse a espreita
de algum sorriso de canto, involuntário
para retribuir...
deixando a cena cinematograficamente encantadora


(e eu continuo com meus versos obsoletos)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

“a culpa é minha?
Não a culpa é sua!
Não, não... a culpa é minha!
A culpa é sua, a culpa é sua!”

Pois bem assumo a culpa
Venho assumindo a culpa do mundo, todos os dias, durante esses últimos anos
E a culpa é um sentimento abundante nas pessoas
Pessoas culpadas pela história, desculpando-se pelos pensamentos vazios
Eu me desculpando pelos meus pensamentos culposos, que vão acabar me condenando
(desculpa culpa, por eu não saber me desculpar)



v.m.paes

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sobre essa loucura de fome
Só penso em come-la
Sobre a loucura de sede
quero beber em ti cada gota de vida
Sobre todo esse frio
não sei bem o que dizer, mas logo passa

Toda essa minha loucura te assusta? Vezes ela me assusta também.
Mas estamos seguros nela... e isso é certo
Nada de receios, anseios, ou qualquer outra dúvida.

e que venha logo a chuva.


v.m.paes

quarta-feira, 27 de maio de 2009

CRIMIDÉIA

O mundo não muda
as pessoas também não
o bem e o mal são homogêneos
não adianta atravessar a história
ou apagar o passado
adianta menos ainda escolher um lado
as pessoas estão subindo nas costas umas das outras

todas essas marcas devem ter algum sentido
sonhar agora é proibido
(olha lá é uma corda num pescoço)
agora é pra dançar, gritar, explodir
é pra pegar fogo...
eu grito: "abaixo o grande irmão"
quando percebo as palavras já ultrapassaram o limite dos meus lábios
já tocaram os seus, e mudaram de forma
a 'cultura' é mercadoria no horário nobre
a informação cada vez mais desinforma
ah, maldita indústria do entretenimento
pão e circo... plásticos sorrisos.

acordo suado no meio da noite
(assustando, sonhando que caía)
inconscientemente um berro: "viva o grande irmão!"
de que adianta? Logo serei vaporizado
as pessoas mentem pra si mesmo, e acreditam nas mentiras, pra esquecer que estão mentindo
debaixo da frondosa castanheira
eu me vendi, tu me vendeste
é preciso abrir mão dos sonhos, o mundo pede compromisso, superficialidade
é preciso estar bem na vitrina
(aceita uma dose de vitríolo?)
é preciso se auto-afirmar diante dos outros, e fazer parte da sociedade...
no final um buraco na cabeça, um vácuo no peito, isso é ser humano
e o grande irmão adora come-los no jantar, recheados de um nada viscoso que faz saltarem os olhos

Afinal, quem são os loucos por aqui?

sábado, 23 de maio de 2009

HERMAFRODITA

Pélvis, pênis, ânus
Grandes e pequenos lábios
Clitóris, sêmen, bagos...
tudo numa fotografia em primeiro plano de um só corpo.


v.m.paes

sexta-feira, 22 de maio de 2009

CABARET

v.m. paes

Estranhamente a mente apaga

Escorre pus pela minha púbis

Fétida, seca, suja...

Loucamente, minha mente conta mentiras para mim

Eu ensaio, saio e visto saia

A cortina se fecha, a luz apaga.