quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

SÁDICO

v.m.paes

Por trás, lento, violento
Violando todos os valores éticos e morais
Violentando tudo aquilo de conservadorismo
Banal, brutal, anal
Agarra pelos cabelos
Respira pecado próximo ao meu ouvido
Deita sobre mim teu corpo suado
Morde com força meu pescoço marcado
Machuca-me a cada estocada
Profundas e pervertidas
Urra, bate, goza
Me deixa no chão
No corpo, feridas abertas do prazer
Na boca gosto doce de porra
Nos olhos brilho de satisfação

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

PÓSTUMO 2

v.m.paes

Lindas flores, tons de branco e amarelo

Nunca disseram nada

Nem saíram do lugar

No céu o sol de um novo amanhecer

Tão escuro feito as noites

Passaram quietas e lentas

Estirado sobre um gramado verde

Na boca sabor de terra

Na terra ficará, para sempre

Algumas lágrimas de quebra-silêncio

Alguns pedaços de quebra-cabeça

As lembranças provam que a vida passou

O preto contrasta com o branco do dia

Matiz singular

De morte e nascimento

Felicidade vestiu luto

Por toda a vida

Certeza fúnebre, única

Doses homeopáticas de esquecimento

O tempo passa e a dor adormece

O corpo alimenta os vermes

Rosas, tulipas, azaléias

Virão com menor freqüência

No final restarão pétalas ressacadas do tempo

Nada de julgamentos

O fim é o começo do avesso

O epitáfio dizia...

“aquele que não descobriu quem era”


sábado, 7 de fevereiro de 2009

MARULHO

v.m.paes

Dois barcos mareados

Nas ondas híbridas do amor

Nas velas vento do afeto

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

PRIMEIRO MOVIMENTO DE SAUDADE

v.m.paes


Hora de partir

O tempo não espera

Um último beijo

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O TREM


v.m.paes

A plataforma, lisa e de estrutura metálica, fantasmas de pessoas semi-mortas num frenético vai e vem, eu agoniado olho para o relógio ansioso pelo trem. Cinco da manhã, já é dia pra muitos, pra mim a noite acaba de começar, no corpo surrado e na alma marulhosa vestígios da madrugada analgésica que passei. Finalmente, lá vem ele, todo “café com pão”, lá vem o trem. Chegou antes do sol. Indiferente. Afinal, depois de tantas essa noite não dormirei com as corujas, nem com ninguém. Corri desesperadamente em direção aos trilhos, saltei. Uma última luz, o farol dianteiro do trem, agora sou nada mais que ninguém.