sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Hold'em

As blinds foram paga...

Flop:
Sobre o feltro verde da pequena mesa, três cartas são abertas.

Passo - Disse o homem bigodudo
Passo - Disse deus, sentado a direita dele.
Passo - Disse o diabo, sentado a direita de deus pai todo poderoso.

Turn:
Sobre a mesa agora quatro cartas, dois valetes de copas, um dois e um três de paus.

Dobro - Disse deus, com aquela cara de puto boêmio, a barba amarelada de cigarro, enquanto servia o travesti que estava sentado em seu colo com mais uma dose de gim de enxofre.

Desisto - Disse o diabo, atirando suas cartas no centro da mesa, um idiota que não sabe blefar, nunca vai chegar a ser deus.

Pago - O homem bigodudo lança um olhar firme para os olhos de deus, sorri um blefe.

River:
Um reis de paus cai na mesa.

Passo - Disse deus, menos convicto do que antes, o trio de valetes dele ficou pequeno.

Tudo - Disse o homem bigodudo, o jogo era dele, as cartas estavam todas na mesa, claras. Empurra as fichas com delicadeza junto ao monte de apostas. Ele percebeu que deus não podia ser tão grande e havia ficado com medo de um possível "flush"

Deus para, olha, aquela vontade de cobrir a aposta só pra não ficar por baixo, mesmo sabendo que o jogo já estava perdido. Apaga o cigarro pouco fumado no cinzeiro, se levanta rápido derrubando o travesti no chão e sai da mesa, o semblante mais derrotado do que nunca.
O homem faz carícias no espesso bigode, recolhe as fichas em silêncio, abre as suas cartas anunciando o blefe, um ás e uma dama, ambos de espada, diz aos gritos para que deus possa ouvir: "Isso não foi só um blefe, foi só a prova de que é o homem quem define o quê ele é. Eu sou livre e decido minhas próprias verdades, chega de dogmas".

No outro dia corria por todo o cassino a notícia que deus havia cometido o suicídio na noite anterior, em seu último testamento ele dizia que não podia suportar o desafio, de ser tornar real, que aquele senhor bigodudo o havia proposto.
Meses depois, a notícia de que esse homem bigodudo havia endoidecido e não parava mais de blasfemar.

Séculos mais tarde, a dívida desse jogo ainda continua sendo paga.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Hoje decidi cuidar de mim
Dane-se o Senado, que morram todos os de-puta-dos
Vou fazer de conta que não existe nenhum Grande Irmão
Tô cagando pro sistema e rindo de quem o alimenta
Tô cagando também pra opinião pública e privada
(que morram todos afogados na minha privada)
Vou dar descarga até acabar toda a água do mundo
E se por capricho alguém se sentir ofendido, eu tô cagando também

Hoje eu não quero nada além de cuidar de mim
da minha paz e do meu superego
Hoje eu não quero correria
Vou dar vazão ao meu ócio
Hoje eu só quero saber de mim e dos meus dois pedaços
Vou botar meu fino no bolso, meu amor no colo
Sentar na sombra com algumas cervejas
E ficar estourando plástico bolha até a noite cair
(vou comprar um quilômetro dele)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

TOCA RAUL


Eu nasci há vinte anos atrás. Há vinte anos atrás, também, morre uma das mais influentes figuras da música nacional: Raul 'Rock' Seixas. O músico, o bruxo, o gênio, o maluco beleza. O Raulzito, que começou na Bahia ao lado dos Panteras, fazendo rock inglês com gosto de acarajé. O Raul, que ao lado do mago Paulo Coelho, escreveu Gitá, mais que uma poesia, uma profecia. O tolo que debochava da ditadura com seu ouro. O Seixas, que morreu para Marcelo Nova brilhar.
Raul Seixas, um nome que vai além das canções e dos pensamentos avançados. Raul Seixas o gênio, o deus, um dos maiores homens que passaram pela Terra.
Viva a sociedade alternativa, viva raul, pois o homem é a lei!
Não morreu de overdose como morre um verdadeiro rock star, não cometeu o suicído, simplesmente viveu e alimentou seus anseios. Raul não morreu, pois como ele mesmo disse certa vez: "Ninguém morre, as pessoas despertam do sonho da vida".
A humanidade agradece e deve muito a você Raul. Descanse em paz, pois o seu livro você já escreveu.


"Ninguem tem o direito de me julgar a não ser eu mesmo. Eu me pertenço e de mim faço o que bem entender."
"Somos prisioneiros da vida e temos que suportá-la até que o último viaduto nos invada pela boca adentro e viaje eternamente em nossos corpos."
"Eu não sou louco, é o mundo que não entende minha lucidez."

- Raul Seixas, 1945 - 1989.

http://www.youtube.com/watch?v=sNQuN6xgBNo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sobretudo as cores

A chuva que sutilmente dança sobre o telhado
Preenche o vazio dessa saudade boa de sentir
Do corpo,do sonho
Em silêncio pleno, planos de um futuro
A chuva que leva as almas brincarem na poça
Embala a cadência das profundas estocadas
No corpo que arde, doces marcas
Do mais perto que se pode chegar da perfeição
Sobretudo as cores, que no mais alto grito,
eu vejo surgir
consomem a alma com a mais serena paz
Num encaixe perfeito, das pernas e braços
Nas clareiras o laço
Descansam os corpos...
Que cada vez brilham mais
sobretudo as cores.


(àquela que eu amo)

sábado, 15 de agosto de 2009

SALADA DE ANSEIOS 2

Deixo a chuva me bater
pelo simples gosto de apanhar
cada gota rasga e cura
(vai bate mais)

Estou ficando precocemente careca
Não me preocupo muito com isso pra falar a verdade
Dizem por aí que sou louco
Ah, eu adoro ser louco, assim não preciso dar explicações, pra ninguém, sobre meus atos
(já não basta a conta do analista)
Sou louco! Isso já explica toda minha insanidade
(no fundo eu ainda queria ter cabelo)

Dois loucos há muito tempo inventaram o amor
talvez a mais plena loucura da humanidade
Tem também o cara que inventou a cerveja
(esse sim foi um gênio)
a phillip morris e o marlboro vermelho
(não pode mais fumar em bares, isso sim é loucura)
tá ficando tarde, os loucos também se cansam uma hora
vou deitar nu, no meio da rua e deixar a chuva me bater
vou derreter, escorrer com a água pelo meio-fio
evaporar, pra voltar em forma de chuva e bater em meu amor.


(na vitrola, a musa das musas, Edith Piaf)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Daqueles dias em que se acorda morto
Sabe?
Qualquer movimento brusco os tendões estouram
Cada passo dá a impressão de que o chão vai abrir
Dentro da cabeça uma tonelada de pensamentos, todos se chocando, deixa no ouvido um zunido estonteante

Daqueles dias em que tem medo do próprio reflexo
Sabe?
Nojo do próprio cheiro
E quando começa a esquecer quem é, alguém te chama pelo nome, um nome disforme que não faz referência alguma, o nome do homem que você odeia ser


Daqueles dias de morte, e da notícia de que mais cedo ou mais tarde ela chega
Sabe?
(justo no momento em que mais ama, que mais quer viver)
Quando os goles descem pela garganta feito navalhas
(números, números, números)
As pessoas só falam em vendas, as crianças ainda morrem de fome
e você procura curar o mundo inteiro, até descobrir que é o maior doente
(assume a culpa, como dever)
Quando quer falar, quer dividir, o cérebro apenas soma tudo e um dos lados faz você ficar em silêncio, e assumir a culpa do silêncio também
(seria bom ter um deus pra culpar agora)

Daqueles dias em que o nada comprimido em seu peito, se alimenta de amor, e busca forças pra pulsar por mais algum tempo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Chama a polícia, vô acender um cigarro!

Quem me acompanha?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ao nascimento do meu filho bastardo

Da desgraça
leprosa fecundação
dos pedaços que me tira, germina e cresce
parasita que deforma meu corpo e rouba meu sangue
aumenta meus seios, dilata minha vulva
um câncer que faz cair meus cabelos

Agora é a hora
em que me livro das dores
e dos horrores daquilo que o desejo não concebeu
o filho que o Diabo me deu
enquanto eu inocente buscava o prazer

Agora é a hora
em que escarro por entre minhas pernas
misturado em sangue e placenta
o pequeno monstro enforcado no cordão umbilical