terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pela poesia de Anita Mendes

Liturgia

meu cu é o único
que sabe dos meus
podres,prazeres,
desejos e dores
porque intimidade
é o que pode ser visto
no vaso do banheiro.
(eles dizem que não)
mas sempre olhe pra trás,
veja a merda que faz
sem arrependimento
depois purifique-se
com aguinha de bidé:
conheça-te a ti mesmo.

Anita Mendes

(Das melhores coisas que eu já li)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Pelas horas da madrugada


Levanto só,
corro pelas horas da madrugada
um deslize sorrateiro
até o banheiro
Lá, deixo, meu sangue e tripas
um estupro
Enquanto aguardo ansioso
o falir de meus rins
sou eu, o faquir de minha dor
Olho para meu vômito
com meu ar bucólico
e
admiro aquele símbolo da minha imperfeição
Pelas horas da madrugada
faço fogo e saio à caça
sendo assim,
sou eu
o fantasma que ainda me assombra
porém, já não assusta mais.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ela tem o rabo quente


Ela tem o rabo quente
e um pau bem rígido
uma metamorfose aflita
melancolia
escondida nos preceitos do positivismo

Ela põe teu rabo quente
rente a minha face
fazendo da escuridão teu abrigo
e das sombras teu desfecho

Ela abre teu rabo quente
e senta
sobre a minha pica dura
Ah, se ela soubesse que o meu rabo, também, arde

Nos meus lábios o doce vermelho do batom
e
toda a morbidez da fumaça

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Sóbrio, até demais

 


Sou o gênio da minha razão
a ficção da minha ciência
o segredo... pouco a pouco revelado

A loucura que chega, através de toda minha sobriedade
a surpresa inerte, desmascarada pelo meu maior inimigo
minha alma fugiu de casa, sem me deixar qualquer pista

Sou eu,
as mentiras que as pessoas trocam feito figuras repetidas
de um velho álbum empoeirado

Sou minha vagabunda preferida
louco pra engolir meu pau
num ato, recíproco, de prazer

Pelos padrões
que ditam as normas e as formas, culta, da arte
com um sol, um mar e tudo tão belo
Passando, na tevê, de canal em canal
e você nem se dá conta...
Ao abrir a porta, o sol te engole
o dia te consome
e
as baratas, entram aos montes
rasgando todas as pregas do teu cu

E, não há nada que me cale
ou que me faça vestir uma fantasia
e sambar no picadeiro
para dar sorrisos àquela plateia
que só sabe viver morrendo
e
se você ainda não morreu...
saiba que está morrendo
e quando essa hora chegar
será uma morte sóbria demais.





Na Vitrola, um dos meus artistas preferidos, Rogério Skylab

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Heróis de guerra

Nas batalhas
travadas sobre a cama
manchando de sangue o lençol
o nosso excitante canibalismo
envolto nas teias
da cadeia alimentar do desejo
onde, carne consome carne
e não se pode distinguir a fome da gula
quem come de quem é a comida
e tudo se faz um, dois corpos
postos num banquete
de pecado à la carte 

é quando seu olhar, feito faca,
me corta ao meio
e num movimento natural de defesa
agarro todos seus cabelos
lanço golpes, violentos, contra seu rosto
cravo minha espada em teu âmago
atravessando, ânus, boca e alma

então, me toca
com as unhas, rouba-me a armadura
quebras meu escudo
ergue em tuas mãos meu pênis
logo, o engole
fazendo deste movimento, teu golpe final


lhe toco,
em meus olhos, um brilho de piedade
assim, me abraça com clemência
para, então, cairmos juntos
ambos, heróis daquela guerra
condecorados
com o gozo, mútuo, da nossa vitória