sexta-feira, 23 de abril de 2010

Música pela paz(x)

Há tantos meses atrás comecei a idealizar meu primeiro disco, pós DeNavez. Até então a idéia era juntar as composições que não compunham o set da banda, talvez por incompatibilidade de pensamentos, talvez por gênero, e gravar um disco meu, produzido por mim mesmo, do jeito que eu queria e sem mais pessoas para meter o dedo. Mas, há pouco mais de dois meses, fiz contato com um companheiro de outros carnavais, que humildemente aceitou entrar comigo de cabeça nesse trabalho, o produtor musical Ivan Barci. Neste projeto eu adotei o pseudo de Vinícius de Pax, do latim Paz, tanto pela analogia ao meu verdadeiro nome Paes, como também pelo principal conceito do projeto, trazer uma mensagem de amor, paz, filosofia e, em alguns momentos a dose exata de melancolia.

Selecionei, dentre todas, as minhas quinze melhores composições, e estamos trabalhando uma a uma a uma, com arranjos, criando uma estrutura para cada canção, um trabalho que ainda vai levar um certo tempo para atingir o nível que pretendemos. Porém, foi quando tive contato com a canção, Corações Vazios, de Ivan, que notei que essa música poderia, também, compor este disco, tanto pela temática, como pela sonoridade... e então, com a sintonia de pensamento em que nós dois nos encontrávamos, resolvemos gravar essa música. O resultado ficou agradável e satisfatório, e deixo abaixo o link do myspace recém inaugurado para que possam vocês, queridos amigos, terem acesso, fica também a ficha técnica de produção. Espero que gostem do resultado.


http://www.myspace.com/depax

 CORAÇÕES VAZIOS (2010)

Letra: Ivan Barci  (2007)
Arranjos: Ivan Barci e Paulo Serafim (2007)
Violão - Paulo Serafim
Saxofone e Flauta - Willinton Gonçalves 
Baixo, Aerofone, Percussão e Bateria - Ivan Barci 
Backing vocals e assovio - Ivan Barci
Voz - Vinícius de Pax
 Gravação, Mixagem, Masterização - Ivan Barci
 



em tempo: O cenário do myspace ainda está sendo definido.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

NAMORANDO SÉRGIO SAMPAIO

Maldita essa minha soberba, eu, aqui, achando que sabia de tudo e que conhecia todos os artistas, úteis de se conhecer, quando me aparece o Sérgio Sampaio. Eu e o meu, ótimo, vício de sempre procurar coisas novas, com o auxílio dessa magnífica ferramenta moderna chamada internet, vasculhava o submundo artístico da web, quando, de repente, me deparo com um dos artistas mais brilhantes de todos os tempos: Sérgio Sampaio. Marginalizado (quem acompanha este blogue, sabe da minha paixão pelos marginais), maldito, o Sérgio Sampaio, lindo, o Sérgio Sampaio. Há algumas semanas atrás estava, eu, no youtube videando Cérebro Eletrônico, uma banda paulistana muito boa, que faz referências a Sérgio em suas músicas, quando desperta em mim uma curiosidade de saber, quem é esse tal de Sérgio Sampaio?

Meus amigos, preciso-lhes dizer, esse tal de Sérgio Sampaio é lindo, ah como ele é lindo, se eu já não fosse um homem casado, eu casaria com ele, treparia várias e várias noites com Sérgio Sampaio. Eu já tinha ouvido "A GRÃ ORDEM KAVERNISTA APRESENTA A SESSÃO DAS DEZ", intensamente e nunca quis saber quem diabos era Sérgio Sampaio, eu sou mesmo um idiota, um grande idiota. Eu nunca, repito meus amigos, nunca havia ouvido algo tão perfeito. Tomar contato com sua obra foi pra mim um dos maiores acontecimentos dos últimos tempos, e olha que tem acontecido muitas coisas na minha vida ultimamente. Dos Compatos aos Long Plays é tudo tão perfeito, o álbum "CRUEL" (2006), lançado, pós-morte, por Zeca Baleiro, é pra mim o melhor de todos eles, mas sem dúvida a melhor música é "Pobre meu pai", do disco "EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA" (1973), eu nunca ouvi nada tão belo e cristalino como essa canção; e, amigos, modéstias a parte, eu, com meus míseros vinte e um anos, conheço muita coisa, estudei toda a bossa, o samba, a tropicália, a marginália, o rock, o jazz, o blues, o clube da esquina, música contemporânea, vanguardista, clássica, tudo, e sim... existem coisas maravilhosas em tudo isso, mas não há nada que se compare a Sérgio Sampaio. Em nome de deus, Sérgio, me carregue e me pregue em sua cruz.

Lô, que até então era o maior compositor da música brasileira pra mim, perdeu seu trono pra Sérgio Sampaio. Raul, que ocupava a primeira posição entre os pensadores da música, perdeu o lugar para Sampaio. Todos eles perderam seus lugares, Sérgio Sampaio ocupa o primeiro lugar e tornou-se dono dos meus gostos, coração e ouvidos.

Enquanto eu, muito bêbado, e minha querida esposa, estudavamos a canção "Pobre meu pai", vinha em minha cabeça imagens, deciframos cada frase da poesia de Sampaio e ela tornou-se ainda mais bela, se é que isso é possível, eu juro que tentei por horas descrever essa análise aqui, neste texto, frase por frase, mas é um pecado, um grande pecado tentar explicar em palavra escrita a letra desta canção, espero haver oportunidade, um dia, de ouvir Sérgio Sampaio com vocês e cantar a tradução de cada frase, bêbado do jeito que Sérgio Sampaio gosta, e não ligar, nem chorar, nem brigar, pois a morte é certa, uma lição que Sérgio Sampaio, provavelmente, aprendeu com seu pobre, podre, doido, pai.

Desta vez, ao contrário das outras, não vou atirar pedras na nossa, inculta, sociedade por ignorarem a existência deste artistica completo,  Sérgio Sampaio precisa ser assim, esquecido, marginalizado, difamado, afinal, se não fosse, não seria ele Sérgio Sampaio. E o triste de tudo isso, é isso tudo de tempo que demorei, eu, para conhecer sua obra, eu sou mesmo um grande idiota.


POBRE MEU PAI
Sérgio Sampaio


Pobre meu pai
Quatro punhos espalhados no ar
Oito olhos vigiando o quintal
E o meu coração de vidro
Se quebrou
Doido meu pai
Sete bocas mastigando o jantar
Sete loucos entre o bem e o mal
E o meu coração de vidro
Não parou de andar
Pobre meu pai
A marca no meu rosto
É do seu beijo fatal
O que eu levo no bolso
Você não sabe mais
E eu posso dormir tranqüilo
Amanhã, quem sabe?
Hoje, meu pai
Não é uma questão de ordem ou de moral
Eu sei que posso até brincar
O meu carnaval
Mas meu coração é outro
Simples, meu pai
Faça um samba enquanto o bicho não vem
Saia um pouco, ligue o rádio, meu bem
Não ligue, que a morte é certa
Não chore, que a morte é certa
Não brigue, que a morte é certa

E eu, que pouco choro, derramei lágrimas na primeira vez que videei.








Imagem: Google
Vídeo: Youtube

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O PAI DA EXPERIÊNCIA


Incompreendido, marginalizado, esquecido, gênio! Essas são palavras que definem bem o ser andrógeno que é Tom Zé. O baiano de Irará começou sua carreira nos lisérgicos anos 60, começou o movimento tropicalista ao lado de Gil e Caetano ou, melhor, fundou a tropicália, barco que Gil e Caetano embarcaram, tomaram o timão sorrateiramente e, logo em seguida, abandonaram.  



Tom Zé é figura única e notável, sem dúvida um dos maiores gênios da música mundial, infelizmente deixado de lado pela “juventude-mod-non sense” que anda muito preocupada se procurando nas etiquetas e no vazio do próprio existir. Tom Zé é clássico e ao mesmo tempo vanguardista, o que faz com que os mais antigos o estranhem e, até mesmo, o desprezem. Pra mim, Tom Zé, é o maior exemplo de como a maioria dos brasileiros não conseguem apreciar nada do que é feito aqui, afinal, vivem sonhando o chamado “American Dream”.



Ontem, no momento em que quase adormecia rente a tevê, escuto o gordo sem graça, Jô Soares, anunciar a presença de Tom em seu programa, me remexo na cama para espantar o sono e ficar no aguardo da entrevista, enquanto o enfadonho Jornal da Globo  passa na tela; e, amigos, preciso dizer-lhes o quanto valeu a pena.                                                                             



O que se passava na tela era um espetáculo, Tom Zé, no auge de sua genialidade, dominava o palco, rolava pelo chão, regia sua banda e assustava a maioria dos presentes.  Tom Zé explicava para confundir e confundia para esclarecer, se divertia diante da ignorância daqueles que não podiam entende-lo. Tom Zé confundiu até mesmo o apresentador do talk-show, o Jô estava com medo de falar, confuso, assustado, com a cuca fundida... do jeito que Tom Zé gosta de fazer. O fato é que Tom Zé não precisa de um entrevistador, Tom Zé, se preferir não precisa nem falar, Tom Zé não precisa de muita letra, nem de muito acorde, Tom Zé precisa apenas ficar em silêncio por alguns segundos que uma idéia nova e completamente original brota naquela, brilhante, cabeça que ainda está anos e anos e anos a frente de todas as outras que habitam esse humilde planeta.



Enquanto a entrevista, ou melhor a palestra que Tom ministrava, desenrolava-se na tela, o antológico ‘Estudando o Samba’, rolava na minha cabeça-vitrola e eu... sorria e sorria e sorria. No final da entrevista ele disse que se um dia fosse publicar algum de seus textos iria editá-los fora do país, pois aqui no Brasil “ninguém leva a sério o que Tom Zé diz”. Tom Zé ou ‘the father of experience’ como o chamam no exterior, deveria ficar feliz de não ser levado a sério e marginalizado pela massa que compõe nosso país, isso só mostra que o seu trabalho é genial. Afinal, ultimamente o que agrada a muitos não merece muita atenção dos poucos que ainda conseguem pensar com autonomia nesse país.


"O silêncio é o pai da idéia" - Tom Zé


Em tempo: Tom Zé acaba de lançar o disco/DVD: O Pirulito da Ciência, produzido por Charles Gavin e lançado pela Biscoito Fino.

 Um das melhores aparições do gênio, é... no programa do Jô


créditos: Imagem: Google
vídeo: Youtube

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Meu eu-lírico vai acabar me matando.


Eu ando
com um saco cheio entre as pernas
arrastando no chão, roçando nas pedras
Sento
olho pro meu pau, feio, mole e inválido
cuspo na mão e toco uma punheta
acelerada e ansiosa
um jato de porra atinge meus lábios, feito flecha da verdade
assim descubro, que minha porra tem gosto de mel
engulo tudo,
me lambuzo e permaneço, a mim, fiel
Passei a dançar ser ter o cuidado de manter os pés sobre o chão
tenho fumado muito, andei tomando algumas
mas continuo amando uma mesma mulher.


foto por Nátalin Guvêa

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Planetário

Há bilhões de anos
lá estão elas nos observando
de cima o plano toma cores
e estamos estáticos, fossilizados
nus e agarrados
dois corpos em um único espaço
contrariando todas as leis da física

Há bilhões de anos
estamos alinhados
corpo e alma
e esquecendo o que não serve de lembrança
a nossa sombra derrete a luz
o meu corpo derrete e se funde ao teu
Esse mundo já ficou pequeno pra nós
Agora, eu e você somos o mundo e nada mais existe
Além de nós
o resto é irreal
Vou desenhar pra você um novo universo
inverso, o avesso das palavras
uma linguagem escrita por olhares
uma esfera brilhante, a gênese de uma nova dimensão

Há bilhões de anos
lá estão elas nos observando
as estrelas, sempre tão serenas
nos envolvendo como parte da constelação.


(poema, originalmente, publicado em 06.07.2009, neste blogue)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre a chuva

A chuva rasga o chão e minha pele
cai lá fora, gotas de sangue
pequenas agulhas envenenadas
alfinetando a melancolia em meu peito

A chuva, tem medo
por isso mentiu pra mim
vai embora, deixando-me só com as poças
e esquecendo o que minha figura representa em seu ciclo
agora é tarde,
não posso mais acreditar na chuva.