O crioulinho era sujo
tinha terra nos dentes
cabelo seboso
quase não abria os olhos
catava latinha
pra fumar crack
e reciclar a mente
pedia trocados
dormia em praça públicade olhos abertos
***
dois guardas passam
grudam o crioulinho pelo pescoço
rasgam a roupa
o crioulinho desnudo
e condescendente
por falta de opção
parecia nem estar ali
lavam o cu do crioulinho
com creolina
comem o cu do crioulinho
sem parcimônia
sem cuspe
a seco
a cada estocada
escorria um líquido espesso e escuro
merda e sangue
merda e sangue
o ato termina
os guardas beijam a boca do menino
prometem voltar amanhã
saem sorrindo
o crioulinho agradece
sobe as calças e deita dormir
amanhã acorda cedo pra catar latinha.