sábado, 11 de julho de 2009

Aquele velho relógio de bolso

Fazia anos que não saía do meu corpo
Nem me lembrava da sensação
O palhaço que dançava nu no meu telhado ainda estava lá
Sem explicação resolvi tirar toda minha roupa também
e pular naquele jardim de cacos de vidro
das minhas veias jorrava um sangue pisado, que nunca correu
as flores dormiam num coma profundo
e eu acordava brigando com o senhor do tempo
atirei cinco pedras no relógio-matriz
e o tempo então começou correr em velocidade dobrada
eu tracei no chão uma linha reta, corri em círculos
pus meu corpo ao avesso
me fiz contrário
só pra acertar meus ponteiros no seu horário.



(sendo assim o silêncio também é barulho)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Há bilhões de anos
lá estão elas nos observando
de cima o plano toma cores
e estamos estáticos, fossilizados
nus e agarrados
dois corpos em um único espaço
contrariando todas as leis da física

Há bilhões de anos
estamos alinhados
corpo e alma
e esquecendo o que não serve de lembrança
a nossa sombra derrete a luz
o meu corpo derrete e se funde ao teu
Esse mundo já ficou pequeno pra nós
Agora, eu e você somos o mundo e nada mais existe
Além de nós
o resto é irreal
Vou desenhar pra você um novo universo
inverso, o avesso das palavras
uma linguagem escrita por olhares
uma esfera brilhante, a gênese de uma nova dimensão

Há bilhões de anos
lá estão elas nos observando
as estrelas, sempre tão serenas
nos envolvendo como parte da constelação.

sábado, 4 de julho de 2009

O corpo é a prisão da alma.
(a minha continua planejando a fuga)







(na vitrola, Bob Smith, my dear)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Esse amargo em minha boca
é consequência do meu sangue sujo
e tão puro é o veneno que me faz acordar
nas horas que chego, vou...

Tem horas que penso não existir
acho que sou fruto da minha própria imaginação
Delinquente, entorpecente o cheiro
daquilo me faz ser o primeiro
e talvez o último dos que ficaram

Sempre levanto, quando não tenho nada pra dizer
e em silêncio sussuro pro espelho
e descubro enfim, que não sou o primeiro
menos ainda o último daqueles que já se foram

Enquanto meu corpo pede calma
minha alma tem pressa
de desfazer o que não foi feito
eu sou deus, eleito por demônios
para governar toda a insanidade humana
em meus devaneios

E aquilo que da terra veio
pra terra sempre há de voltar
e eu fico...
parado, pensando em todos os anos que passaram
me perguntando quem foi aquele que marcou as horas
num relógio de sol que sempre atrasa

Monta a sombra do passado
e o desejo de um futuro
que me faz embrulhar pro presente
a minha vergonha de existir

Então engole toda poeira
dos segundos que passam
e sem controvérsias peço mais um trago
do cigarro amassado que esqueci de fumar

Agora é a hora para sorrir
os loucos e aquilo que se fez puro
do nascimento até alguma forma de morte
onde o corpo ainda flutua
por entre os copos vazios
e suas longas histórias

Não sou o único
não sou o que quero
nem o que penso ser
não sou nada daquilo que se aproxima da perfeição
mas sei que ainda posso sorrir por alguém
e então, neste exato momento, esquecer toda dor

Mas esse silêncio
faz meus sonhos migrarem pra perto dos seus
e não adianta esconder
pois a saudade é real
a saudade é ideal

Não sou o orgulho
não sou a vaidade
sou a tristeza em conflito com a felicidade

Eu sou o doente que não quer se curar
eu sou tudo aquilo que não consigo segurar
eu sou um pouco do fogo
um pouco da água
um pouco do ar

Eu sou o mar
dizendo que estamos seguros
e que nada pode nos derrubar