terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O CU DO CRIOULINHO


O crioulinho era sujo
tinha terra nos dentes
cabelo seboso
quase não abria os olhos
catava latinha
pra fumar crack
e reciclar a mente
pedia trocados
dormia em praça pública
de olhos abertos
      ***
dois guardas passam
grudam o crioulinho pelo pescoço
rasgam a roupa
o crioulinho desnudo
e condescendente
por falta de opção
parecia nem estar ali
lavam o cu do crioulinho
com creolina
comem o cu do crioulinho
sem parcimônia
sem cuspe
a seco
a cada estocada
escorria um líquido espesso e escuro
merda e sangue
o ato termina
os guardas beijam a boca do menino
prometem voltar amanhã
saem sorrindo
o crioulinho agradece
sobe as calças e deita dormir
amanhã acorda cedo pra catar latinha.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Dilemas e paradoxos

Foto por Nátalin Guvêa
No que não existe
é o que eu creio
eu sou feio
portanto me acho bonito
ou sou bonito
daí me acho feio
ou me acho bonito?
me sinto velho
então eu penso
ou eu finjo?
falo
não entendo
nem explico
fosse eu, mudo
pra preservar os dentes
de leão
que mia
esperando a leoa
voltar da caça
insensato
estúpido
decadente, mas com estilo
estripo
minha hipocrisia
chamo-a de filha
e a levo pra passear
sou o maior filósofo moderno
do meu sofá
portanto
penso, logo
percebo
que não existo.


PRO TEXTO DE HOJE, RECOMENDO DUAS TRILHAS. FANTÁSTICAS DE DOIS GRANDES NOMES DA MÚSICA BRASILEIRA, ELAS COMPLETAM ESTE TEXTO, EM DOIS DIFERENTES ASPECTOS.:




terça-feira, 23 de novembro de 2010

Poema sem nome nº2

Estranha Criatura por Solange Venturi
Papai tem cancro duro
Mamãe tem gonorréia
então, cresci
achando que
mudar o mundo
era trepar
com camisinha.










Ps: A foto foi garimpada no blogue da artista plástica Solange Venturi, uma das mentes mais criativas da atualidade. Sua obra causa uma estranheza, uma perturbação visual, passear por todas as fotos do blogue é um desafio e, no final, deixa dentro do peito uma ligeira angústia. A admiração pela brutalidade e a genialidade da artista se mistura a uma inquietação constante. Um passeio que aconselho. Um dos melhores trabalhos que eu vi nos últimos tempos, se não o melhor.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Poema sem nome n°1

FOTO POR NÁTALIN GUVEA
Sufoco do luto
um maluco
com coceira no cu
corre nu
pela praça
as bolas balançam
em cadência de sino
badala
na cabala
tira o cabaço da cadela
singela
mete no útero
bolinhas de silicone
depois lambe
e vomita 
idiossincrasia
do estranhamento conservador
surge o trivial
moralidade vulgar
das reflexões rasas
de peixinho de aquário
nasce a nova geração
meio homem
meio cão
a coceira no cu
virou câncer.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Cheirinho de leite quente

Nata-
lin-da
pele de-
leite
do meu
café
fervendo
até
derramar
e queimar
com teu
cheiro
meus braços
com teu
gosto
minha língua                                                                   foto por Nátalin Guvea (flickr)
meu banquete matinal
marginal.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

SEXTA-FEIRA

Sexta-feira corrida
o sol faz brasa no cobre das estátuas
eu, suando em bicas, com a pica toda melada
uma saudadizinha doce d'ocê
seis-freiras, caminham na praça
túnicas negras
matando qualquer pecado de calor
tão quente que o prazer do cigarro desaparece
a corrida pela sombra, hoje, fez dois mortos, um ferido
eu dou um chute na pomba
e rastejo no sol.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

OS BIGODUDOS DA MINHA VIDA

Minha vida foi marcada por porres, fodas, amor, música. Foi marcada pelo tempo, que deixei passar de propósito e depois lhe passei a perna. Marcada por encontros espirituais,questionamentos metafísicos.Minha vida, foi marcada por muita punheta, pela playboy da Claudia Ohana e pela minha vizinha gotosa, na adolescência. Mas, mais que tudo isso, os principais fatores da minha formação "homem",que seguirá até o resto dela, foram a literatura, a poesia, a filosofia, os jornais, os romances... principalmente a poesia e a filosofia. Nestas duas tive dois relacionamentos duradouros, onde entre um cigarro e outro, mergulhava nas páginas de dois grandes gênios de grandes bigodes: Nietzsche e Leminsk. Com o primeiro, foi um relacionamento amargo, solitário, caótico, quase suícida. Com o segundo havia mais beleza, nas coisas, porém um tanto de dor também, tipo fotografia p/b. Ainda sonho em ter bigodes e destreza como os dois, mas por enquanto deixo, hoje aqui publicado um dos meus poemas preferidos de Paulo, e outros aforismos de Fréd Niz


Sinfonia para pressa e presságio
          Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
          na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
          Sôo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
          do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
          que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

          Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
          e não cabe mais na sala.

------//------


"Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te."

"Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti "

"O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte."

"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar."

 "Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem."

 "Torna-te aquilo que és."

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

QUERO TEU PÂNCREAS PRA MIM

Não! Hoje
não quero saber do teu coração
nem da cor dos teus olhos
nem do gosto da tua buceta

Eu só quero teu pâncreas

Não me importa
a cor do bico da tua teta
nem o tamanho dela
nem se teu cu é rosadinho e apertado

Eu só quero teu pâncreas

Pra secretar hormônios
e regular os níveis de glicose no meu sangue
pra compensar o doce que você faz
quando eu quero te comer

 Quero teu pâncreas pra mim!

sábado, 9 de outubro de 2010

MÚSICA PELO FILHO

Amigos,

Mais uma música do meu projeto, De Pax, está pronta. Modéstias à parte, essa ficou maravilhosa, ainda precisamos acertar alguns detalhes, mas o resultado parcial já nos agradou muito.
O Projeto De Pax, é uma parceria minha com o produtor musical Ivan Barci e, por aqui, lhes apresento nossa Capela Sistina: Ao Filho, minha primeira homenagem, em forma de música, ao meu guri, nesta música contamos, também, com a criatividade incessante do saxofonista Will Gonçalves.


www.myspace.com/depax


FICHA TÉCNICA:
Vinícius Paes (de Pax) - Letra, Música, Violão e Voz
Ivan Barci - Baixo, Guitarra, Bateria, Piano, Apito Gravação e Mixagem
Will Gonçalves - Saxofone
João - Percussão
Talita G. - Backing vocal

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Veludo Vermelho

A juventude das ideologias mortas
assiste ao pleito
como quem assiste
um filme erótico dos anos oitenta
a comodidade exacerbada
de uma masturbação perante uma foda sem graça e fictícia

não queria," Darwinizar", novamente
mas o homem-animal
por instinto se adapta
ao ambiente em que vive
portanto são
o conformismo
e a inércia
responsáveis por este
entra e sai, entra e sai
do consumismo e de um mesmo sistema político,
há muito, falido.

no final, independente do resultado
nada muda...
é só mais masturbação no sofá de veludo vermelho.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O JARDIM DA EXPERIÊNCIA

O jardim da experiência é meu mais novo passatempo. Compondo canções, gravando-as com o software de gravação mais precário que eu conheço, inventando instrumentos, cantando desafinado, tocando errado... e fazendo tudo fora de tempo e compasso, ou seja sou um desocupado sem tenho porra nenhuma pra fazer.

Sem nenhuma vergonha na cara, apresento-lhes minha mais recente criação: Jardim da consciência. Nela, além do violão, utilizo de sacolas plásticas e um simulador de efeitos.




JARDIM DA CONSCIÊNCIA

Já ouço meu corpo
se desculpando com o tempo
já não peço licença
pra fechar os olhos e deitar no vazio
compro novos sapatos
fumo do mesmo cigarro
assisto a degradação
do ambiente cinza que me ronda
e da natureza morta do meu intestino

Mal nasceram as rugas
e eu já cheiro a mofo
um drops de naftalina
pra eliminar meu hálito fecal
para trancar meu cérebro
na gaveta do espaço

Estou cantando no vácuo
um teste gravitacional
de idéias e de pensamentos enrustidos
e quando me falta álcool
meu fogo apaga, a febre queima
e eu abro a porta de um bloqueio criativo

Eu pergunto as paredes
qual a graça e moral de toda essa existência?
tantas grades e muros
e a liberdade traz, no pulso, marcas de algemas
o futuro é fruto da imaginação
brota na primavera da televisão
e apodrece no jardim da consciência humana
o sol do submundo dispara um clarão
in vitro uma nova fertilização
abortando um tratado de idéias novas

Vinícius Paes

terça-feira, 24 de agosto de 2010

ESTÁTICA




Fique estática
Não caminhe em minha direção
Salte o muro e corra através do tempo
Não mova sequer um sorriso a mim
Contente-se com a cãibra do silêncio
Esqueça meus apelos, juras e, pormenores, carinhos
Nade suas braçadas solitárias
No vasto oceano da realidade
E em meio a toda essa agonia
Não ouse me olhar
Pois, hei de petrificá-la com meus olhos de Medusa
Aí, então
Seriam, nossas lágrimas, apenas chuva


Música: Minha Cara - Mart'nália

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Tô meio sumido, mas não morri, ainda. hahahaha.

sábado, 5 de junho de 2010

Durma antes de morrer!

Corre filho,
corre pra cama, debaixo dela
fuja dos mísseis, abrace seu travesseiro de espinhos
Coma filho,
de todos os tipos de carne
escolha o vinho que melhor acompanhe
antes que a guarnição chegue
armados de hipocrisia
enrolados em arame farpado
Não. Filho
o que existe é uma falsa democracia
não acredite em nada que aparece na tevê
fale sempre com estranhos na rua, mas ignore os normais
desvie daqueles que carregam a morte em forma de cruz no peito

Dorme, filho
dorme logo antes que você morra
antes que o mundo caia sobre tua cabeça
pois a vida, enquanto acordado, é um campo de batalha e a paz é utopia!


(desculpe a ausência, meus amigos, não é descaso é a falta de tempo... mas as coisas estão normalizando. Colocarei minhas leituras em dia)

terça-feira, 11 de maio de 2010

E o Bento chegou.

Chegou o Bento
arrebentando as entranhas e sua mãe
arrebatando nossos corações
rebento do nosso brilho
um produto de consumo, consumado por nosso afeto e carinho
mais uma alma inocente nesse mundo cão...
preciso dizer tantas pra ele:
sobre os homens, sobre o tempo, sobre a razão
avisar que não existe monstro no armário, a não ser que ele queira.
que não existe deus no céu, apenas estrelas
e que Satã faz morada na terra, pois não há inferno
Preciso contar pra ele que filosofia é algo muito importante
apresentar-lhe alguns amigos, meus... Tom Zé, Caetano, Tom Jobim, Belchior, Sérgio Sampaio, entre tantos outros...
Tenho também que lhe contar que esse mundo é feio e cruel... mas que podemos fazer ao menos do nosso quintal algo mais calmo e claro.
Que podemos ver beleza nas coisinhas mais pequenas...
Tenho que contar pra ele que dinheiro não presta, e deixa as pessoas ignorantes e infelizes...

Preciso falar com ele sobre os benefícios do álcool e da boemia, das drogas, dos cigarros, das mulheres, da poesia, do samba, da masturbação e de todo o resto que faz bem....
Preciso falar sobre os malefícios das tradições, ilusões, religões e todo o resto e faz mal.
Preciso lhe contar sobre esses homens maus, que comem outros homens.

Tenho tanta coisa pra lhe falar meu filho, só espero ter tempo pra tudo isso.

Chegou saudável, estranho como qualquer recém nascido, tem os olhos e o nariz da mãe, a minha boca.

Eu, particularmente, acho ele bem parecido comigo... adora dormir a tardinha, adora chupar os peitos de sua mãe, adora a madrugada...

É um menino lindo e puro, contrastando com esse mundo cinza.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Balinhas de chumbo

O menino, anda, descalço
passeia por entre as pessoas, como se fosse invisível
imprevisível, aquele menino que até alguns minutos atrás não existia
Tira do bolso, com as unhas negras de terra
balinhas metálicas...
bota duas na boca, atira três na vidraça e sai fugido
seu sangue é mais venenoso do que o chumbo
por isso seus passos são pesados e suas palavras tóxicas

Arranja espaço num poço fundo, onde deita toda noite
entre as fezes, os abutres e os diamantes
Dorme, então, em paz
aquele menino
que num parto fórceps
foi tirado do ânus de sua mãe
para entrar no ânus do tempo e da razão.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Música pela paz(x)

Há tantos meses atrás comecei a idealizar meu primeiro disco, pós DeNavez. Até então a idéia era juntar as composições que não compunham o set da banda, talvez por incompatibilidade de pensamentos, talvez por gênero, e gravar um disco meu, produzido por mim mesmo, do jeito que eu queria e sem mais pessoas para meter o dedo. Mas, há pouco mais de dois meses, fiz contato com um companheiro de outros carnavais, que humildemente aceitou entrar comigo de cabeça nesse trabalho, o produtor musical Ivan Barci. Neste projeto eu adotei o pseudo de Vinícius de Pax, do latim Paz, tanto pela analogia ao meu verdadeiro nome Paes, como também pelo principal conceito do projeto, trazer uma mensagem de amor, paz, filosofia e, em alguns momentos a dose exata de melancolia.

Selecionei, dentre todas, as minhas quinze melhores composições, e estamos trabalhando uma a uma a uma, com arranjos, criando uma estrutura para cada canção, um trabalho que ainda vai levar um certo tempo para atingir o nível que pretendemos. Porém, foi quando tive contato com a canção, Corações Vazios, de Ivan, que notei que essa música poderia, também, compor este disco, tanto pela temática, como pela sonoridade... e então, com a sintonia de pensamento em que nós dois nos encontrávamos, resolvemos gravar essa música. O resultado ficou agradável e satisfatório, e deixo abaixo o link do myspace recém inaugurado para que possam vocês, queridos amigos, terem acesso, fica também a ficha técnica de produção. Espero que gostem do resultado.


http://www.myspace.com/depax

 CORAÇÕES VAZIOS (2010)

Letra: Ivan Barci  (2007)
Arranjos: Ivan Barci e Paulo Serafim (2007)
Violão - Paulo Serafim
Saxofone e Flauta - Willinton Gonçalves 
Baixo, Aerofone, Percussão e Bateria - Ivan Barci 
Backing vocals e assovio - Ivan Barci
Voz - Vinícius de Pax
 Gravação, Mixagem, Masterização - Ivan Barci
 



em tempo: O cenário do myspace ainda está sendo definido.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

NAMORANDO SÉRGIO SAMPAIO

Maldita essa minha soberba, eu, aqui, achando que sabia de tudo e que conhecia todos os artistas, úteis de se conhecer, quando me aparece o Sérgio Sampaio. Eu e o meu, ótimo, vício de sempre procurar coisas novas, com o auxílio dessa magnífica ferramenta moderna chamada internet, vasculhava o submundo artístico da web, quando, de repente, me deparo com um dos artistas mais brilhantes de todos os tempos: Sérgio Sampaio. Marginalizado (quem acompanha este blogue, sabe da minha paixão pelos marginais), maldito, o Sérgio Sampaio, lindo, o Sérgio Sampaio. Há algumas semanas atrás estava, eu, no youtube videando Cérebro Eletrônico, uma banda paulistana muito boa, que faz referências a Sérgio em suas músicas, quando desperta em mim uma curiosidade de saber, quem é esse tal de Sérgio Sampaio?

Meus amigos, preciso-lhes dizer, esse tal de Sérgio Sampaio é lindo, ah como ele é lindo, se eu já não fosse um homem casado, eu casaria com ele, treparia várias e várias noites com Sérgio Sampaio. Eu já tinha ouvido "A GRÃ ORDEM KAVERNISTA APRESENTA A SESSÃO DAS DEZ", intensamente e nunca quis saber quem diabos era Sérgio Sampaio, eu sou mesmo um idiota, um grande idiota. Eu nunca, repito meus amigos, nunca havia ouvido algo tão perfeito. Tomar contato com sua obra foi pra mim um dos maiores acontecimentos dos últimos tempos, e olha que tem acontecido muitas coisas na minha vida ultimamente. Dos Compatos aos Long Plays é tudo tão perfeito, o álbum "CRUEL" (2006), lançado, pós-morte, por Zeca Baleiro, é pra mim o melhor de todos eles, mas sem dúvida a melhor música é "Pobre meu pai", do disco "EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA" (1973), eu nunca ouvi nada tão belo e cristalino como essa canção; e, amigos, modéstias a parte, eu, com meus míseros vinte e um anos, conheço muita coisa, estudei toda a bossa, o samba, a tropicália, a marginália, o rock, o jazz, o blues, o clube da esquina, música contemporânea, vanguardista, clássica, tudo, e sim... existem coisas maravilhosas em tudo isso, mas não há nada que se compare a Sérgio Sampaio. Em nome de deus, Sérgio, me carregue e me pregue em sua cruz.

Lô, que até então era o maior compositor da música brasileira pra mim, perdeu seu trono pra Sérgio Sampaio. Raul, que ocupava a primeira posição entre os pensadores da música, perdeu o lugar para Sampaio. Todos eles perderam seus lugares, Sérgio Sampaio ocupa o primeiro lugar e tornou-se dono dos meus gostos, coração e ouvidos.

Enquanto eu, muito bêbado, e minha querida esposa, estudavamos a canção "Pobre meu pai", vinha em minha cabeça imagens, deciframos cada frase da poesia de Sampaio e ela tornou-se ainda mais bela, se é que isso é possível, eu juro que tentei por horas descrever essa análise aqui, neste texto, frase por frase, mas é um pecado, um grande pecado tentar explicar em palavra escrita a letra desta canção, espero haver oportunidade, um dia, de ouvir Sérgio Sampaio com vocês e cantar a tradução de cada frase, bêbado do jeito que Sérgio Sampaio gosta, e não ligar, nem chorar, nem brigar, pois a morte é certa, uma lição que Sérgio Sampaio, provavelmente, aprendeu com seu pobre, podre, doido, pai.

Desta vez, ao contrário das outras, não vou atirar pedras na nossa, inculta, sociedade por ignorarem a existência deste artistica completo,  Sérgio Sampaio precisa ser assim, esquecido, marginalizado, difamado, afinal, se não fosse, não seria ele Sérgio Sampaio. E o triste de tudo isso, é isso tudo de tempo que demorei, eu, para conhecer sua obra, eu sou mesmo um grande idiota.


POBRE MEU PAI
Sérgio Sampaio


Pobre meu pai
Quatro punhos espalhados no ar
Oito olhos vigiando o quintal
E o meu coração de vidro
Se quebrou
Doido meu pai
Sete bocas mastigando o jantar
Sete loucos entre o bem e o mal
E o meu coração de vidro
Não parou de andar
Pobre meu pai
A marca no meu rosto
É do seu beijo fatal
O que eu levo no bolso
Você não sabe mais
E eu posso dormir tranqüilo
Amanhã, quem sabe?
Hoje, meu pai
Não é uma questão de ordem ou de moral
Eu sei que posso até brincar
O meu carnaval
Mas meu coração é outro
Simples, meu pai
Faça um samba enquanto o bicho não vem
Saia um pouco, ligue o rádio, meu bem
Não ligue, que a morte é certa
Não chore, que a morte é certa
Não brigue, que a morte é certa

E eu, que pouco choro, derramei lágrimas na primeira vez que videei.








Imagem: Google
Vídeo: Youtube

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O PAI DA EXPERIÊNCIA


Incompreendido, marginalizado, esquecido, gênio! Essas são palavras que definem bem o ser andrógeno que é Tom Zé. O baiano de Irará começou sua carreira nos lisérgicos anos 60, começou o movimento tropicalista ao lado de Gil e Caetano ou, melhor, fundou a tropicália, barco que Gil e Caetano embarcaram, tomaram o timão sorrateiramente e, logo em seguida, abandonaram.  



Tom Zé é figura única e notável, sem dúvida um dos maiores gênios da música mundial, infelizmente deixado de lado pela “juventude-mod-non sense” que anda muito preocupada se procurando nas etiquetas e no vazio do próprio existir. Tom Zé é clássico e ao mesmo tempo vanguardista, o que faz com que os mais antigos o estranhem e, até mesmo, o desprezem. Pra mim, Tom Zé, é o maior exemplo de como a maioria dos brasileiros não conseguem apreciar nada do que é feito aqui, afinal, vivem sonhando o chamado “American Dream”.



Ontem, no momento em que quase adormecia rente a tevê, escuto o gordo sem graça, Jô Soares, anunciar a presença de Tom em seu programa, me remexo na cama para espantar o sono e ficar no aguardo da entrevista, enquanto o enfadonho Jornal da Globo  passa na tela; e, amigos, preciso dizer-lhes o quanto valeu a pena.                                                                             



O que se passava na tela era um espetáculo, Tom Zé, no auge de sua genialidade, dominava o palco, rolava pelo chão, regia sua banda e assustava a maioria dos presentes.  Tom Zé explicava para confundir e confundia para esclarecer, se divertia diante da ignorância daqueles que não podiam entende-lo. Tom Zé confundiu até mesmo o apresentador do talk-show, o Jô estava com medo de falar, confuso, assustado, com a cuca fundida... do jeito que Tom Zé gosta de fazer. O fato é que Tom Zé não precisa de um entrevistador, Tom Zé, se preferir não precisa nem falar, Tom Zé não precisa de muita letra, nem de muito acorde, Tom Zé precisa apenas ficar em silêncio por alguns segundos que uma idéia nova e completamente original brota naquela, brilhante, cabeça que ainda está anos e anos e anos a frente de todas as outras que habitam esse humilde planeta.



Enquanto a entrevista, ou melhor a palestra que Tom ministrava, desenrolava-se na tela, o antológico ‘Estudando o Samba’, rolava na minha cabeça-vitrola e eu... sorria e sorria e sorria. No final da entrevista ele disse que se um dia fosse publicar algum de seus textos iria editá-los fora do país, pois aqui no Brasil “ninguém leva a sério o que Tom Zé diz”. Tom Zé ou ‘the father of experience’ como o chamam no exterior, deveria ficar feliz de não ser levado a sério e marginalizado pela massa que compõe nosso país, isso só mostra que o seu trabalho é genial. Afinal, ultimamente o que agrada a muitos não merece muita atenção dos poucos que ainda conseguem pensar com autonomia nesse país.


"O silêncio é o pai da idéia" - Tom Zé


Em tempo: Tom Zé acaba de lançar o disco/DVD: O Pirulito da Ciência, produzido por Charles Gavin e lançado pela Biscoito Fino.

 Um das melhores aparições do gênio, é... no programa do Jô


créditos: Imagem: Google
vídeo: Youtube

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Meu eu-lírico vai acabar me matando.


Eu ando
com um saco cheio entre as pernas
arrastando no chão, roçando nas pedras
Sento
olho pro meu pau, feio, mole e inválido
cuspo na mão e toco uma punheta
acelerada e ansiosa
um jato de porra atinge meus lábios, feito flecha da verdade
assim descubro, que minha porra tem gosto de mel
engulo tudo,
me lambuzo e permaneço, a mim, fiel
Passei a dançar ser ter o cuidado de manter os pés sobre o chão
tenho fumado muito, andei tomando algumas
mas continuo amando uma mesma mulher.


foto por Nátalin Guvêa

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Planetário

Há bilhões de anos
lá estão elas nos observando
de cima o plano toma cores
e estamos estáticos, fossilizados
nus e agarrados
dois corpos em um único espaço
contrariando todas as leis da física

Há bilhões de anos
estamos alinhados
corpo e alma
e esquecendo o que não serve de lembrança
a nossa sombra derrete a luz
o meu corpo derrete e se funde ao teu
Esse mundo já ficou pequeno pra nós
Agora, eu e você somos o mundo e nada mais existe
Além de nós
o resto é irreal
Vou desenhar pra você um novo universo
inverso, o avesso das palavras
uma linguagem escrita por olhares
uma esfera brilhante, a gênese de uma nova dimensão

Há bilhões de anos
lá estão elas nos observando
as estrelas, sempre tão serenas
nos envolvendo como parte da constelação.


(poema, originalmente, publicado em 06.07.2009, neste blogue)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre a chuva

A chuva rasga o chão e minha pele
cai lá fora, gotas de sangue
pequenas agulhas envenenadas
alfinetando a melancolia em meu peito

A chuva, tem medo
por isso mentiu pra mim
vai embora, deixando-me só com as poças
e esquecendo o que minha figura representa em seu ciclo
agora é tarde,
não posso mais acreditar na chuva.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Reporto-me a um velho poema.

Hoje, morre um
Amanhã, nasce um

Qual é o resultado dessa equação...
isso é uma soma ou uma subtração?

Sou péssimo em Matemática, portanto hoje fico por aqui...
buscando entender o que não pode ser entendido....

Afinal, morte é somar ou zerar?

O que eu sei sobre a morte é que ela é o sentido da vida, a única certeza. É aquilo que impulsiona as ações, vontades... a morte é o reflexo das ações, e sim, todos devem morrer algum dia. Só queria que todos morressem sorrindo e em paz.


(Vestindo luto; 22/03/2010)

in Manual de Aritmética.

sábado, 20 de março de 2010

Quem sabe?

Dos meus dedos em movimentos
dedilhando o corpo escuro da noite
Das estrelas cortantes
rasgando minhas veias e jorrando meu sangue
Das sirenas nas ruas
atropelando pessoas, que agonizavam, atropeladas pelo tempo
De minha pele, desmanchando em vitiligo
como um camaleão se camuflando
Do meu cigarro
queimando a solidão de uma espera
Dos olhares, sobre mim, lançados
como grades cercando meus pensamentos
Da minha vida
que queria ser chamada de morte
Da minha morte
que queria ser chamada de liberdade
Da minha liberdade
que adotou o pseudônimo, loucura.

Quem sabe,
o que eu quero dizer?
quando na verdade não quero dizer, absolutamente, nada.

Isso não é prosa, nem poesia...
é apenas minha caixa de pandora
nada foi dito, são, apenas, palavras
um nada sobre o nada.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Tem gente querendo pisar na minha cabeça!
Estão subvertendo minhas palavras
e banalizando minha genialidade

Vou me trancar na gaveta de livros
antes que esses terroristas do intelecto
explodam meu cérebro.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Pela poesia de Rogério Skylab

NOVOS TEMPOS

Que tempos são esses ?
- perguntou-me a professora de filosofia.
Então respondi à minha maneira :
são tempos de pura sandice.

Só os loucos amam, professora.
Os outros trabalham,
à noite assistem televisão,
e depois dormem até o dia raiar.

Quando amanhece, voltam para o trabalho.
Enquanto eu durmo, sonho,
trepo e não gosto de trabalhar.

Esses são os novos tempos, professora.
Tempos de escrever como quem fala.
E não dizer absolutamente nada.


fonte: site oficial de Rogério Skylab


Um dos meus maiores ídolos. Talvez, minha principal influência, já que até o nome deste blogue vem de uma das músicas dele.

terça-feira, 2 de março de 2010

Girar-mundo

Envergonhado da minha natureza
como a menininha com sua primeira menstruação
acendo velas, num culto àqueles que se masturbam num rito de piedade
na cabala das esquinas e becos escuros
Enquanto o Sr. Moralidade abre a braguilha e põe sua filha no colo
Enquanto o sacristão come o meu filho, sem camisinha, sob os pés de Cristo
Enquanto deus, com sua roupa de diabo, tira suas merecidas férias, no inferno,
regadas a vinho e orgias sexuais

Emoldurado, numa das paredes do reino dos céus, os dogmas de uma estrutura opressiva
estão, nossos anjos, todos controlados
o perdão está em leilão
e as terras no céu foram desapropriadas
no lugar das belas mansões, que antes pertenciam aos fidalgos, serão construídos nosocômios
onde, hão de vagar, as almas, doutrinadas e febris, condenadas a eternidade

Agora,
o Sr. Moralidade abre o jornal
abaixa as calças, senta sobre a cloaca de seu banheiro esterilizado
e de tanta força que faz, para expulsar toda a merda de seu caráter, acaba por estourar suas hemorróidas
chora pelo ânus enquanto recolhe as pregas
pra continuar pregando.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pela poesia de Anita Mendes

Liturgia

meu cu é o único
que sabe dos meus
podres,prazeres,
desejos e dores
porque intimidade
é o que pode ser visto
no vaso do banheiro.
(eles dizem que não)
mas sempre olhe pra trás,
veja a merda que faz
sem arrependimento
depois purifique-se
com aguinha de bidé:
conheça-te a ti mesmo.

Anita Mendes

(Das melhores coisas que eu já li)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Pelas horas da madrugada


Levanto só,
corro pelas horas da madrugada
um deslize sorrateiro
até o banheiro
Lá, deixo, meu sangue e tripas
um estupro
Enquanto aguardo ansioso
o falir de meus rins
sou eu, o faquir de minha dor
Olho para meu vômito
com meu ar bucólico
e
admiro aquele símbolo da minha imperfeição
Pelas horas da madrugada
faço fogo e saio à caça
sendo assim,
sou eu
o fantasma que ainda me assombra
porém, já não assusta mais.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ela tem o rabo quente


Ela tem o rabo quente
e um pau bem rígido
uma metamorfose aflita
melancolia
escondida nos preceitos do positivismo

Ela põe teu rabo quente
rente a minha face
fazendo da escuridão teu abrigo
e das sombras teu desfecho

Ela abre teu rabo quente
e senta
sobre a minha pica dura
Ah, se ela soubesse que o meu rabo, também, arde

Nos meus lábios o doce vermelho do batom
e
toda a morbidez da fumaça

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Sóbrio, até demais

 


Sou o gênio da minha razão
a ficção da minha ciência
o segredo... pouco a pouco revelado

A loucura que chega, através de toda minha sobriedade
a surpresa inerte, desmascarada pelo meu maior inimigo
minha alma fugiu de casa, sem me deixar qualquer pista

Sou eu,
as mentiras que as pessoas trocam feito figuras repetidas
de um velho álbum empoeirado

Sou minha vagabunda preferida
louco pra engolir meu pau
num ato, recíproco, de prazer

Pelos padrões
que ditam as normas e as formas, culta, da arte
com um sol, um mar e tudo tão belo
Passando, na tevê, de canal em canal
e você nem se dá conta...
Ao abrir a porta, o sol te engole
o dia te consome
e
as baratas, entram aos montes
rasgando todas as pregas do teu cu

E, não há nada que me cale
ou que me faça vestir uma fantasia
e sambar no picadeiro
para dar sorrisos àquela plateia
que só sabe viver morrendo
e
se você ainda não morreu...
saiba que está morrendo
e quando essa hora chegar
será uma morte sóbria demais.





Na Vitrola, um dos meus artistas preferidos, Rogério Skylab

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Heróis de guerra

Nas batalhas
travadas sobre a cama
manchando de sangue o lençol
o nosso excitante canibalismo
envolto nas teias
da cadeia alimentar do desejo
onde, carne consome carne
e não se pode distinguir a fome da gula
quem come de quem é a comida
e tudo se faz um, dois corpos
postos num banquete
de pecado à la carte 

é quando seu olhar, feito faca,
me corta ao meio
e num movimento natural de defesa
agarro todos seus cabelos
lanço golpes, violentos, contra seu rosto
cravo minha espada em teu âmago
atravessando, ânus, boca e alma

então, me toca
com as unhas, rouba-me a armadura
quebras meu escudo
ergue em tuas mãos meu pênis
logo, o engole
fazendo deste movimento, teu golpe final


lhe toco,
em meus olhos, um brilho de piedade
assim, me abraça com clemência
para, então, cairmos juntos
ambos, heróis daquela guerra
condecorados
com o gozo, mútuo, da nossa vitória

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O Despertar

Hoje eu acordei,
todo cagado.
cagando pro mundo
cagando pra você
e, também, todo cagado

Não ligo pro lençol sujo de merda,
nem pra esse mundo de merda,
nem pra sua cara de merda.

Hoje,
eu acordei todo cagado
e, provavelmente, amanhã
eu acorde também.
(se não fosse todo esse álcool)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Movimentos do útero - (poesia visual)




Hoje, não há poesia nem nada. Quero apenas descrever uma das sensações mais gostosas que já provei. A paternidade, que dia desses me arrepiou de tanta alegria.
Meu Bento, que ganha forma dentro do útero de sua mãe, havia passado o dia inteiro sem um movimento sequer, sem chutar, sem mexer, sem nada. Então, foi quando eu aproximei meu rosto da sua casa temporária, beijei, falei, até cantei pra ele, que ele começou a se movimentar, a chutar. Como se soubesse que era o pai dele que ali de fora dizia coisas bobas. Como se ele pudesse ouvir e entender que aquela voz era a minha, como se tudo aquilo que eu dizia fizesse sentido, como se já pudesse sentir meus beijos e meu abraço protetor. Uma forma de comunicação transcendental. Talvez tenha sido só a natureza agindo, afinal fetos são fetos. Mas, é impossível dizer que não fui tomado, de surpresa, por um sentimento bom que até então não havia experimentado. Meu menino que nem nasceu ainda, mas já me enche de alegria.


ps: o título dessa postagem, foi inspirado numa postagem do blog Bate-bola, do jornalista Rodrigo Piscitelli, intitulada 'um poema visual'.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

UM POEMINHA DE MERDA

O sono
com sonhos cheirando a vômito
Numa banheira de álcool
Dou aquela cagada, embalada a vácuo
mergulho dentro da minha privada
e nado, até chegar o mar...
posso ver uma ilha, ao horizonte
Uma ilha feita de merda. Merda de todos os habitantes do planeta
Ao chegar, me atiro no chão e rolo, de um lado para o outro
Passo merda no cabelo, na boca, nos olhos, no pau
Levanto com minha cara de cu
e meu sorriso cor de bosta

Por fim,
Caminho por entre a multidão
E, facilmente, camuflo-me
(mal dá pra notar a diferença)
e aquele fedor, era pra mim, agradável
cheiro de gente.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

UM POEMA DE 'EU TE AMO'

Estou aqui, me encontrando na floresta de espinho de meus pensamentos
aos goles d'água e os bocados de salame apimentado com mostarda escura
pensando se seria moral e sensato, nesse momento, abrir uma garrafa de vinho
enquanto me arrependo em não ter comprado cervejas

Penso na cura do câncer do mundo e,
também, apaixonado, penso na maravilha que é saber que na imensidão da nossa cama
você descansa, bêbada de amor, num sono sereno e profundo

Penso nos nossos prazeres e nos nossos pecados
nas aventuras e desventuras de nossas almas em meio às cores
na ameaça letal e na guerra que travamos contra o tempo

Nos nossos dias, completamente apaixonados
e nos abraços, nus e apertados
nos nós de nossas pernas, nos laços de nossos braços
no sexo dos nossos membros

Sinto vontade de, com minhas mãos, apertar o teu pescoço
te libertar, com a nossa libido libertina
te sufocar até faltar ar
Em seguida, te beijar e sentir o amor correr, pelo teu gélido corpo

Vontade de te esquartejar, membro a membro
na imensidão da nossa cama, me pintar com cada gota do teu sangue
Com o teu clitóris, ornar um belo colar
para carregar, pendurado em meu pescoço, próximo ao meu coração, o teu pedaço
mais sensível, mais bonito, mais intenso, mais cultuado
a representação perfeita da sua essência
Ocasionalmente coloco-o em minha boca, dou-lhe uma pequena mordiscada
para sentir o sabor do teu gozo

Com teus olhos,
serenos, sinceros, singelos
negros, com uma camada policrômica,
ataviar um belo par de brincos
furá-los em minhas orelhas
Com tua pele me vestir
num belo vestido de tom claro
com seios grandes, redondos e empinados
com cheiro de amêndoas e um tacto suave
Seus lábios, agora serão meus lábios
para que sua saliva seja pra sempre minha saliva
para que meu beijo seja para sempre teu beijo
para que minhas palavras se misturem com as suas
e façamos, em uníssono, um belo verso
num lego de fonemas

Então,
corro até o espelho e me olho
me vejo lindo, travestido de você
Sento a mesa,
sirvo, teu coração, num prato, temperado com ervas e porra
como-a até o último pedaço

Por fim,
tomo um suco de seu suor misturado a vitríolo
adoçado com seus dejetos
Para morrer
a tua imagem e semelhança
ensandecido, sorrindo e apaixonado.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A MULHER DOS MEUS SONHOS

Louca, seios fartos e um rabo enorme
Dança pra mim sobre a cama
A calcinha, pequena, enterra-se nas carnes
Cansa-se e cai de boca no meu pau
Chupa, como se o ato desse mais prazer pra ela do que pra mim
Me beija, como se eu fosse o teu primeiro e único homem
Sobre mim, senta e dança
Vira, revira os olhos
Grita
Bate, arranha
Tece teias em meu corpo
Feito aranha
Posta-se de quatro e me envolve no teu veneno
Na tua face jorro, quente, o meu sêmen
Ela gosta e engole, planta em mim uma semente

Pouco depois acordo, só, na cama imensa com os lençóis molhados de porra.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

ALGUMAS COISAS QUE EU NÃO GOSTO

Abri outra cerveja, nas minhas incursões pelas madrugadas

Cansado de ter que pensar tanto sobre todas as coisas do mundo

A vida é realmente um negócio chato

Ela foi feita pra ser chata e monótona

E não me venham com esse papo de viajar e conhecer o mundo e se aventurar

A vida vai continuar sendo uma merda, pois ela foi feita pra ser assim

A diferença é que vai ser uma merda com cheiro e textura diferentes, mas, ainda assim, uma merda

E não importa se você ama, casa-se, constrói um lar e tudo o mais

A vida é uma merda e ponto

E não, não estou pensando em suicídio e nem entrando em depressão, aliás, eu adoro essa merda de vida e viveria ela inteira novamente, do mesmo jeito

Adoro a monotonia do amor, adoro vomitar as tripas de tão bêbado, adoro pensar que o cigarro destrói meus pulmões, adoro os olhares me recriminando pelas minhas roupas sujas e esfoladas, adoro todo o resto que faz da vida uma merda...

Só não gosto de hipocrisia, ganância e egoísmo, coisas que fazem essa merda feder demais

Sabe, não gosto de pessoas fúteis, idiotas e burras



Não gosto de quem não gosta de jazz, não gosto de quem não sabe sobre a importância da filosofia, não gosto de pessoas-etiquetas, não gosto de fanáticos e de mais alguns pares de coisas

Não gosto de pessoas que fazem intercambio para os Estados Unidos, para jogar dinheiro fora, procurar emprego, ou simplesmente se aventurar

Vai viajar pro Camboja, lá sim você vai ter uma grande experiência do que é a vida

Caso o contrário metam seu dinheiro, sua passagem, sua experiência e sua vida, no olho do cu

Não gosto de pessoas que fazem academia, tanto aqueles que são escravos da ditadura da beleza, como aquelas senhoras que querem impedir que os maridos trepem com as secretárias, a elas um aviso: Desistam, as secretárias são sempre mais gostosas

Não gosto de quem não bebe, são chatos, sem graça e geralmente não dizem nada útil e agradável, deveriam ficar em casa tomando seu chocolate quente e assistindo a novela ao invés de irem pro bar e reclamarem da fumaça do meu cigarro

Também não gosto de quem gosta de quem não bebe, são quase a mesma coisa



Não gosto de ‘baladas’ e de quem vai pra ‘baladas’, ficam dançando e suando e se esfregando uns nos outros

Não gosto de pombas, são nojentas e transmitem doenças, não gosto de baratas, são como as pombas, porém mais nojentas

Não gosto de igrejas, gosto menos ainda dos testemunhos de Jeová, bando de filhos da puta, acordam às cinco da manhã no sábado pra vir pregar na porta da minha casa, quando estou deleitando na minha ressaca

Não gosto dos filmes do Tim Burton, acho ele um grande imbecil, também não gosto dos filmes do Spilberg, acho ele outro grande imbecil

Não gosto dessas novas modas pseudo-cult, que só por que vêem filmes iraquianos, lêem um pouco de Kafka, usam roupas listradas e deixam de comer carne, se acham a supremacia da espécie, eles me dão nojo e reviram todo o meu estomago

Não gosto de vegans, vegetarianos e de sociedades defensoras de animais, bando de bundões hipócritas, ninguém tá nem aí pro efeito estufa, ou pros mundrungos, ou pras putas, ou para aqueles que morrem de fome, ou para todo o resto dessa podridão, mas salvar as vacas todos querem, pro inferno bando de bastardos

Não gosto de música ruim, isso inclui toda a produção da indústria cultural

Não gosto da linha editorial do Estadão, não gosto de ler a Veja e não gosto do Jornal Nacional

Não gosto de vinho suave, nem de uísque, nem dessas novas marcas de cervejas que estão aparecendo

Não gosto de mais um milhão de coisas que, aqui, não citei...

E, provavelmente eu também não goste de você