quarta-feira, 1 de julho de 2009

Esse amargo em minha boca
é consequência do meu sangue sujo
e tão puro é o veneno que me faz acordar
nas horas que chego, vou...

Tem horas que penso não existir
acho que sou fruto da minha própria imaginação
Delinquente, entorpecente o cheiro
daquilo me faz ser o primeiro
e talvez o último dos que ficaram

Sempre levanto, quando não tenho nada pra dizer
e em silêncio sussuro pro espelho
e descubro enfim, que não sou o primeiro
menos ainda o último daqueles que já se foram

Enquanto meu corpo pede calma
minha alma tem pressa
de desfazer o que não foi feito
eu sou deus, eleito por demônios
para governar toda a insanidade humana
em meus devaneios

E aquilo que da terra veio
pra terra sempre há de voltar
e eu fico...
parado, pensando em todos os anos que passaram
me perguntando quem foi aquele que marcou as horas
num relógio de sol que sempre atrasa

Monta a sombra do passado
e o desejo de um futuro
que me faz embrulhar pro presente
a minha vergonha de existir

Então engole toda poeira
dos segundos que passam
e sem controvérsias peço mais um trago
do cigarro amassado que esqueci de fumar

Agora é a hora para sorrir
os loucos e aquilo que se fez puro
do nascimento até alguma forma de morte
onde o corpo ainda flutua
por entre os copos vazios
e suas longas histórias

Não sou o único
não sou o que quero
nem o que penso ser
não sou nada daquilo que se aproxima da perfeição
mas sei que ainda posso sorrir por alguém
e então, neste exato momento, esquecer toda dor

Mas esse silêncio
faz meus sonhos migrarem pra perto dos seus
e não adianta esconder
pois a saudade é real
a saudade é ideal

Não sou o orgulho
não sou a vaidade
sou a tristeza em conflito com a felicidade

Eu sou o doente que não quer se curar
eu sou tudo aquilo que não consigo segurar
eu sou um pouco do fogo
um pouco da água
um pouco do ar

Eu sou o mar
dizendo que estamos seguros
e que nada pode nos derrubar

4 comentários:

Nátalin Guvea disse...

Agora é a hora para sorrir
(loucura daquilo que se fez puro)
Você é o único.
Você é o Vinícius, você é tudo aquilo daquela coisa toda. Não, não te leio apenas, te sinto, te beijo, te mordo, vejo nossos desvairos em fumaça, nossos risos, nosso estado de graça.
E por mais que eu queira te curar, sou veneno e poderia te matar, mas sei que seu organismo é pré-moldado, absorve. E adormece em meu seio, em meus apertos em meus meios.
Aplica na minha veia seringas de segurança, olhando a agulha entrar e o sangue escorrer, sorri (me cura) e depois me abraça.

Adriana Godoy disse...

Ei, Paes, quanta inspiração. Me lembrei de Raul Seixas, não sei por quê. Muito belo e forte seu poema, o conjunto todo nos leva a pensar em nós mesmos. Bravo! Beijo.

Anita Mendes disse...

"Tem horas que penso não existir
acho que sou fruto da minha própria imaginação"

"eu sou deus, eleito por demônios
para governar toda a insanidade humana
em meus devaneios"

muito bom tudo isso aqui ,meu caro paes.
vc vai longe garoto!
amo esses teus romantismos sádicos e doces niilismos.
beijos pra ti, Anita Mendes

Lih disse...

Q perfeição esse texto!!!
Uau
ainda estou em choque!
mas pra mim, a melhor parte:
"eu sou deus, eleito por demônios
para governar toda a insanidade humana
em meus devaneios"
Acho q me identifiquei!rs
Bjo Vinen e Parabéns!!
;)