terça-feira, 8 de setembro de 2009

Das viagens no tempo-espaço

6 de Setembro de 2018


Antes de mais nada, eu gostaria de dizer que não me chamo Vinícius, meus pais não são meus pais e toda minha vida é um disfarce, para todos os efeitos e para o bem da revolução tudo o que vou relatar aqui também nunca existiu.

Para que as coisas façam pouco mais de sentido, vou explicar o cenário físico, antropológico e político-social em que se situa o Brasil de 2018. O regime é fechado, só que desta vez não se trata de um governo militar, quem dita às regras é o sistema que conta com três frentes amplas. A primeira, é a soma dos poderes: executivo, legislativo e judiciário. São os responsáveis para que o sistema sempre funcione bem financeiramente, dividindo a sociedade em classes, de forma desigual e injusta. A segunda se chama indústria do entretenimento, ela serve para iludir a sociedade, fazendo com que ela não perceba que está sendo oprimida e aceite a organização social imposta pela primeira frente. A terceira e a mais importante delas é a que chamamos de indústria da informação, é ela quem decide o que vai ser dito, quem vai ser eleito, quem pode viver e quem deve morrer, e faz tudo isso através da população. O que não muda desta ditadura pra anterior são os companheiros sendo torturados, os ídolos e as bandeiras que defendemos, os pensamentos sendo manipulados e a mídia encobrindo todos esses fatos.

Uma ditadura mais organizada e inteligente como essa em que vivemos hoje, precisa de uma revolução mais organizada e inteligente. Nos estruturamos da seguinte forma, são quatro grupos hierárquicos diferentes. Os idealizadores, que são os pensadores, na maioria todos mais velhos e que tem certa intimidade com revoluções, são eles quem definem os passos a serem dados e suas identidades são um mistério que nem mesmo nós, da revolução, sabemos. O segundo grupo, nós chamamos, criadores, a função deles é simplesmente procriar, moldar mentes e nos dar novas identidades e sustento até estarmos pronto para a revolução, são eles nossos pais. O terceiro grupo, do qual faço parte, chama-se batedores de carteira, somos nós quem combatemos de verdade a ditadura, raramente pegamos em armas, nossa missão é se infiltrar no sistema, colher informações, refletir, questionar e tentar entende-lo, quando chegamos num certo ponto da vida deixamos de ser batedores e nos tornamos criadores. O último grupo são o que chamamos de isca, são eles em sua maioria criminosos, eles são responsáveis pela luta armada, por tentar desestabilizar o sistema enquanto nós nos empenhamos em remover as peças fundamentais que sustentam essa estrutura desigual e opressiva. Com exceção dos idealizadores, os outros grupos se organizam de forma simples. Os criadores procriam, registram a criança com um nome e criam ela com outro, documentos adulterados. Nunca sabemos o nosso verdadeiro nome, poucas vezes sabemos ao exato a nossa verdadeira idade, nos alimentam a vida inteira com preceitos comunistas, filosofia e física quântica, quando atingimos a maior idade somos designados a um dos grupos e nunca mais voltamos a vê-los.

Sendo assim, para todos os efeitos e para o bem da revolução o meu nome é Vinícius, os meus pais são os meus pais, e a minha vida é real.

4 comentários:

Adriana Godoy disse...

que viagem, heim, Paes...me lembrei de 1984. vou ler de novo. beijo.

Cintia Ferreira disse...

Uau!
Tbm me lembrei do George Orwell.
Muito..muito bom!

bjão

Isabela Pizani disse...

"Eu não sou eu. Sou só um não que eu não sei. Eu sei que não sou um não. Eu não sou só. Eu sou eu. Sou só eu. Só eu sei que sou."

Os Pseudônimos da identidade. Vida confinada. Mas o Big Brother não é quem diz quem eu sou.


Beijão!

Nátalin Guvea disse...

O que os sonhos do Vinícius que não se chama Vinícius rendem an.

Eu te amo, seja qual for seu nome.haha