terça-feira, 2 de março de 2010

Girar-mundo

Envergonhado da minha natureza
como a menininha com sua primeira menstruação
acendo velas, num culto àqueles que se masturbam num rito de piedade
na cabala das esquinas e becos escuros
Enquanto o Sr. Moralidade abre a braguilha e põe sua filha no colo
Enquanto o sacristão come o meu filho, sem camisinha, sob os pés de Cristo
Enquanto deus, com sua roupa de diabo, tira suas merecidas férias, no inferno,
regadas a vinho e orgias sexuais

Emoldurado, numa das paredes do reino dos céus, os dogmas de uma estrutura opressiva
estão, nossos anjos, todos controlados
o perdão está em leilão
e as terras no céu foram desapropriadas
no lugar das belas mansões, que antes pertenciam aos fidalgos, serão construídos nosocômios
onde, hão de vagar, as almas, doutrinadas e febris, condenadas a eternidade

Agora,
o Sr. Moralidade abre o jornal
abaixa as calças, senta sobre a cloaca de seu banheiro esterilizado
e de tanta força que faz, para expulsar toda a merda de seu caráter, acaba por estourar suas hemorróidas
chora pelo ânus enquanto recolhe as pregas
pra continuar pregando.

4 comentários:

Isabela Pizani disse...

Pela minha intepretação, há tantas verdades nesse seu texto.

As coisas aqui estão bem. Eu ando pensando mais do que escrevendo. E continuo dormindo mal. rs

Quanto tempo pro Bento chegar?

Um Beijo, Vini!

Adriana Godoy disse...

Porra! Esse poema tá espetacular. esse jogo de ideias, essa verdade tão explícita quanto a merda que sai merece aplausos. compartilho com vc os versos, a merda, o sonho, a poesia. Arrasou, Paes. beijo.

Nátalin Guvea disse...

Um dos grandes!

Enfim, algumas coisas me inspiraram a escrever, não com seu lirismo nem sarcasmo e ironia, mas com o desespero e a agonia.

Deus não tirou férias, só está caído em alguma esquina, bêbado e esquecido.
Eu te amo.

Nátalin Guvea disse...

Hey
vida, vidinha
Te amo seu sacana.
Você e nosso leãozinho ♥